terça-feira, 7 de maio de 2013

Tristessa.

A primeira vez foi quando eu estava triste, a segunda tambem e a partir da terceira fazia por comodidade. Você vai pensando no dia seguinte e depois no outro e depois no outro e quando vê, ja está no que nem imaginou. A primeira vez foram duas ou três doses, a segunda vez foi um caminhar sem fim e totalmente zigue-zagueoso, se é que me entende, até a cama. Lembrava-me de algo que alguem havia me dito que não seria alcool ou mulher que me curaria daquela tristeza crônica. Era um Kerouac já velho que não prestava pra nada, não aguentava beber, um copo de conhaque e tudo parecia a morte. Aí lembrava que havia coisas piores que a morte, graças ao Buk, e bebia mais um pouco. Por algumas vezes tive a companhia de algo divino, mulheres, mulheres e suas vestes que me provocavam. Ou era mulheres ou eram bebidas ou era a cama. Ah, e era tristeza tambem. Abria a janela do quarto e a o sol estava lá, fechava novamente, no decorrer do dia arriscava abrir mais duas ou tres vezes, mas vou te contar, quando você está de ressaca até um vampiro aguenta mais sol na cara que você. E o sol não parecia feliz tambem. Ele me olhava e piscava pra mim como quem dissesse: estamos-na-mesma-meu-brother. Era dificil imaginar o sol tomando alguma coisa. Cerveja gelada então, me parecia impossível. Até que ontem foi a ultima vez entre a primeira e a segunda e todas as outras. Fechei a janela, só abro quando passar a ressaca. E que nenhuma daquelas mulheres me façam companhia novamente.  E eu espero que o sol esteja lá tambem, curado. E que você diga que me ama a cada copo que eu arriscar de tomar daqui pra frente.

domingo, 14 de abril de 2013

Cervejas, tilintares e aquilo que chamamos de amor.

    Acordara durante alguns dias indisposto. Era um final de ano e isso era como se não houvesse mais fim. Aquele clima chato de pessoas à espera de festas e churrascos e cervejas e uma ameaça de morte no telefone. Aquele tilintar angustiante dos aneis de latas de cervejas que se faziam barulhentos como se estivessem se despedindo daquela vida perversa que levara durante 28 anos. Amigos preocupados com sua provável morte e um homem a dizer: você não terá muito tempo, vou te pegar. E eu lá, à espera do que era inevitável. Bebia conhaques e cervejas. E era tudo.
    Você pode passar anos pregando permissividades luxuriosas e se divertir com elas. Tendo mulheres em que minutos depois esqueceria para sempre. Fazer listas de quantas pessoas levou para cama e se orgulhar por esquecer dezenas delas. Não havia leucotomia que desse jeito naquele silêncio sufocante dos finais de semana em que não sabia pra quem ligar, muito menos havia alguem que te procurasse. O silêncio do telefone era tão dolorido que nem o despertador ativado era pontual. Era você, ali, um homem sem escrupulos e cheio de culpas. As mulheres da tua vida ou da paralelidade daquilo que chamara de vida, acreditavam tambem, com muito afinco e fé, que sua morte enfiaria milhares de tridentes no seu rabo e isso as emocionava e felicitava.
    Eis que num estado fisico de matéria, sua vida gasosa para solida, nesse estado de sublimação peculiar, aparece um par de olhos daqueles e seu coração dispara e suas cervejas tomam gosto e nada-mais-parece-estar-morto-ainda-que-sua-vida-esteja-sob-ameaça-perpétua-de-um-cretino-tambem-quase-morto. O telefone lhe faz companhia, há um som forte e claro no fim do tunel musical. E Mahler volta com a sua mais bela sinfonia e tilinta bonito dessa vez. Cada prato da orquestra se compassa com o anel da cerveja e você dança com aquele par de olhos o que nunca antes lhe foi tão dançante. E a vida renova e você não se parece mais com um Mort Rainey à espera de matar o que lhe ameaça. Viver lhe basta e isso é tudo. Uma cerveja, alguns dias de musica, uns projetos de medo. E: você quer se casar? - Sim, eu quero. E acordar ao lado dispensa qualquer telefonema. Amor, prepare nossa cerveja que hoje vamos tilintar a casa inteira.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ca.


Há um tempo em que tudo não passa de desistência e desamor. Você é pego pelo pé ou pelas mãos ou pelos pêlos do seu genital e isso te arrasta ou te machuca ou te corrompe. E você continua porque a ideia é chegar até o fim. No meio do caminho você encontra algumas garrafas, como se tivesse em um cômodo que fizera festa durante toda a semana e agora é domingo e agora é frio e agora está nublado e agora você precisa limpar a casa; com garrafas pelos cantos, pelo centro, em cima das suas coisas, da sua cama, da sua estante, todas vazias. E há algumas mulheres deitadas nuas e alguns de seus amigos ainda bêbados e cheirando a sexo e você não se reconhece ali, você sempre foi aquilo, mas você não se reconhece ali.
E você limpa sua casa, tira as garrafas vazias do canto, do centro, da estante, comunica o fim da festa, mulheres nuas se levantam - podres - e seus amigos, ainda mais podres já esperam a próxima. Mas você sabe que alguma coisa aconteceu e você não estará na próxima. E sua casa não terá outra festa deste nível.
Alguem te liga e te oferece companhia. Você nega.
Alguem te liga e sugere uma bebida. Você nega.
E agora há um rádio ligado, Tom Jobim canta algo que sempre te surpreendeu. E você pega seu telefone, liga pra alguem e diz: sinto sua falta, sou apaixonado por você. E
ela tem medo, você tem medo. Cada é um responsável pelo seu passado, pelos suas dores e não há quem vá chegar e tratar de cura-lo sem distinção. Há de ser julgado e você torce pela absolvição.
Ela é uma linda mulher e seus cabelos curtos não chegam aos pés da grandeza de seus olhos. E você se lembra de Bukowski dizendo: um par de olhos capaz de nocautear o sol. E você continua, ela esta lá. "você quer vir em casa?" e ela vem, e a sua casa está limpa, há uma garrafa na estante, um Cabernet - tão romântico que seus amigos negaram - digno de um compartilhamento, mas agora sem mulheres nuas e amigos podres. Ela chega, o chão reflete seu brilho, suas mãos tremem e sorri com o canto dos lábios. E agora, depois da casa limpa, pode andar descalço e afagar seus cabelos suaves; não há mais desamor ou desistência. Ela vai precisar de uma cópia destas chaves.

domingo, 1 de julho de 2012

Conhaque e dor.

Ela chegou
de volta
com meus dedos.
E me aninhou em seus cliques
de pneumática.
Você sabe
quanto é duro
pra mim
escrever um
poema?
E o
quanto me
dói
quando simples-
mente
me confesso
nesse
pedaço
vil de
palavras?
Ela não sa-
beria.
E quando
me ani-
nhava
no conhaque,
doía nela.

Espalhado.

você se
espalha
por aí.
Quando
alguem
reconhece
seus pedaços.
Você não é
mais
tão inteiro.
Os dias
os meses
os anos
faz você
virar
menos
a cada passo.
Quem te
respira
não respira
só você
tambem
o pouco
dos que respirara
antes
de se
espalhar
por aí!
Quando?
o tempo todo!

Três dias.

Havia alguma coisa
de errado.
Era a terceira vez,
que ela virava a cara
e ia embora.
Devia ter percebido,
que quando troquei
todas
as fechaduras
da casa,
menos uma,
era pra ela voltar.
Ela tinha aquela chave.
E quando eu
dizia,
que amava o
costume que tinha
com a minha solidão,
não era sempre.
Três dias que
havia saído por aquela
porta.
Três dias
que não voltara.
Minha solidão
era angustia.
Você devia
ter voltado,
agora
tarde da noite,
ligo a tevê,
e a moça do tempo
diz que amanhã
a previsão
continua a mesma.

Um velho e um amor.

"Você me pergunta: por que você me deixou quando eu te amava? Eu te respondi: é que eu não te amava. Mas a verdade é só uma; é que o tempo passa, agora você me ama, daqui a pouco me amassa e quando eu tiver sem condições você vai deixar de me amar. Quando eu ficar velho e solitário. Com meu litro de conhaque e meu maço de cigarros, bêbado, às três da manhã, ouvindo Chico Buarque, ainda haverá a lembrança de que te deixei enquanto você me amava. E nada melhor do que a glória do amor, o amor só é eterno pra quem tem a coragem de vive-lo sozinho. Eu tambem te amava quando te deixei e tambem te amo agora quase velho, eu e meu amor, a sós. Por isso estamos vivos e quase velhos."

Queimar-se.

Você se queima, claro que se queima.
Você estará disposto a lardear tuas derrotas?
Passa por limitações,
embebeda-se.
Você não vai se salvar tanto quanto acha que pode.
E então você se entrega.
E a vida está pronta,
cozida, assada, da melhor forma que tens pra comer.
Alguns cachorros latindo seus choros,
algumas mulheres reclamando dos amores impossíveis.
Você está nas listas negras delas,
mas elas tambem estão nas tuas.
Você pode se livrar,
se encontrares a chave do absurdo.
Lamentarás ao divino,
regozijará por ele.
Alimentar-se-á do incrédulo.
E a tua vida voltará à ativa.
Entre duas ou tres palavras,
uma nova mulher.
E quando tudo estava perdido,
quando tudo estava enlameado,
seu coração pérfido,
voltará à lealdade.
flores, sorrisos e promessas
te colocando em pé novamente.

Noite daquelas.

Era uma noite
daquelas
ela estava
dentro
de mim
e percebia
e consequente-
mente
me
matava
ela sabia
que eu
a guardava
no meu
coração
cérebro
pulmões
rins
e os
danava
quando
percebia
qualquer indicio
de fraqueza.
Era uma noite
daquelas.

nessa casa

Nessa casa
o chão
está forrado
de garrafas
vazias
e maços
de cigarros
fedidos,
que servem
de cinzeiros.
Nessa casa
o chão
não passa
de um chão
como em
outras
casas.
E no teto
o forro branco
a tevê
no canto
que nunca liga
a janela
do quarto
que nunca trava
a cama
no canto
que nunca esfria
o sofá
que se
oferece
como companhia.
Nessa casa
metade
das coisas
não são
iluminadas
ha um relógio
na parede
que sempre
aponta
meia-noite,
'seja mais
otimista, Téo,
pense que é
meio-dia
que ele aponta'
Nessa casa
metade das
coisas
sou eu
e a outra metade
sou eu
tambem.
Nessa casa
ha tempos
não
entrava
alguem
pra arruma-la.
Prazer.

O grande erro.

Ninguem diria
que hoje
essa mulher
estaria viva.
Eu não poderia
impedir
que ela
estivesse
aqui.
Mas eu sempre
o tempo todo
a mantive
morta.
Ela não tinha
algo que
pudesse
me tirar
do sério.
Até descobrir
que em vida
a sua morte
não doía.
Seu jeito
de se matar
aos poucos,
era o mesmo
jeito de todos
se matarem aos poucos.
Mas ali
aqueles cabelos
escorrendo
pelo meu rosto
enquanto trepávamos,
era algo divino,
era uma morte feliz
e era a
primeira vez
na vida
que uma futura morta
me dava
sensação de vida.
E ela me abandonou.
Amei a morte
e a morte me abandonou.
Não tinha como se
livrar.
Nunca daria.
Ligo a tevê
e mudo de canal
a cada três
minutos
à espera
da morte.
Foi o erro

Permanecer vivo.

você vai se
calar
tua vida
não
fará sentido
por enquanto.
então você
vai beber
e vai escre-
ver
dois ou
três
poemas
essencial
que um
deles
fale de você
da sua fragili-
dade
e você
permanecerá
vivo
então você
beberá
mais
um
pouco
e quando
menos
esperar
sua vida
não
estará
somente
alinhada
na bebida.
outro poema
que fale
de amor
e então
alem de frágil
você
estará
condenado
à
vida eterna.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ilusões, fé e gigantismo.

Poderia ver os moinhos, mas jamais via o rocinante! Estava à espera de batalhas, estava começando a trucidar minhas ilusões, moinhos eram moinhos, burros eram burros, de Pedrês a Rocinante e um Dvorak nos intervalos das batalhas, não restavam armas. Não restavam objetivos. Dulcinéia não era mais de Toboso, no coração agora, havia só um nome. E com isso a realidade se construia... ...'Ei, não é por aí. Eles vão nos atacar, volte. Volte'. E não, ninguem desistia, porque por mais que haviam deixado de acreditar, ninguem deixava de lutar. Era um instinto e lá íamos nós, novamente, armados, pra enfrentar os gigantes de vento soprando lascivia nas nossas faces. Rindo das nossas fraquezas e surpreendidos pelo tamanho do sentimento. Não há gigante que supere a arte de acreditar, a arte de ter fé, Davi há de concordar com isso.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Carla, Hernandéz e Cusco.

Ela tinha suas pernas brancas. E entre as pernas, tinha os joelhos mais belos. E um pouco acima dos joelhos, coxas, suas coxas eram brancas, era de um lugar calorento, ensolarado, as pessoas tinham mais cor que ela e quando se olhava no espelho, o que se refletia, nao era o que imaginava que se pudesse ser refletido.
Você poderia reparar em suas coxas, em sua cor branca, em seus cabelos amarelados, talvez ali dentro dela, havia algo mais escuro que seus olhos negros. Mas o que tangia sua vida era um emaranhado de cores mortas, era um emaranhado de desavenças com o ego, era uma mulher tão linda, subterfugiada de seus gostos péssimos, uma música detalhada lhe dava asco.
Hernandéz viera de Cusco, e quase nao falava sua língua, encontrara-se com Carla num beco qualquer e como uma lasca de desespero lhe esvai uma cantada falível: mira que guapa. E Carla vira os olhos, como se vivesse à espera de um mirabolante príncipe basco e nao precisa de mais nada a não ser uma noite de sono, longe de espelhos e de cantadas obtusas.
Henandéz por sua vez, procura mulheres, paga por três delas, se enfia num quarto, trepa até amanhecer e ao meio-dia é encontrado morto. Era o segundo caso de turista morto por prostitutas aquela semana. Uma terça-feira.    
Carla acorda, ouve por terceiros o caso do turista. Aquela cidade estava realmente violenta. Pensa em sua carreira, Carla é modelo, pensa em ir embora pra outra cidade, pra outro país, lembra-se de outros casos pífios e violentos tambem em cidades vizinhas, países distantes, quebra seu espelho, lembra-se da cantada de Hernandéz e por sua incólume ávidez pelo desdem que poderia, anversa fosse, ter salvado o turista safado. Abre a janela de seu apartamento, coloca Wagner na sua vitrola, olha a rua, tira a roupa, sobe no parapeito e vê um homem todo de preto na praça, olhando seus seios, suas coxas e lambendo os beiços. Não eram as cidades que estavam violentas, nem os países vizinhos, nem os continentes. Havia ali uma constatação: as pessoas é que se traem, se matam e se deliciam ao palpar a morte. E enfim, Carla voa.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Frio, vinho e santidade.

Como era gostosa
a sensação do frio
subindo pela espinha.
Ela se dizia taça,
eu me oferecia vinho.
Era tudo muito louco,
duas pessoas
se escorrendo pelo outro.
E você não sabia,
muito menos eu.
No entanto,
em breve,
como dois gulosos,
um se embebedaria do outro,
o outro permaneceria são.
E você de longe,
encontraria um terceiro elemento,
quem sabe um anjo mulher,
com a marca de batom na taça,
que remeteria ao desejo,
da tua alma,
a frequentar o mènage
tão santificado.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Sessão de fotos.

Ela queria uma sessão de fotografias, era morena, tinha uma bunda linda.
Ele era um fotógrafo feliz, qualquer um seria feliz se pudesse tirar fotos daqueles rabo e decote.
- Você quer beber alguma coisa antes de começar, Elisa?
- Eu não bebo, Armando.
- Então eu vou beber.
- Mas não é você quem vai tirar a roupa, Armando.
- Mas sou eu quem vai ter que olhar sua bunda, Elisa, só a trabalho e vou ter que suportar.
- Como você é bobo.
Abriu sua garrafa de uísque, ainda intacta, ela o olhava com um par de olhos que poderia enfrentar qualquer flash. Ele virou o primeiro copo e encheu novamente, deu outro gole.
- Pode tirar a roupa, ja deixei o cenário armado, me confirma se está tudo bem pra você. As cores amarelas e vermelhas se encaixarão à sua pele.
- Pra mim tá ótimo, Armando. Foi exatamente assim que imaginei.
Armando virou o copo novamente. Elisa tirou a roupa. Armando tirou a capa do zoom, a maquina expeliu o zoom, algo crescera tambem em Armando, Armando foi em direção a Elisa, a segurou pelo cabelo, beijou seu pescoço, Elisa tentou resistir, até que Elisa virou e se ajoelhou diante de Armando e Armando continuou sua sessão de fotos, encostou-a no cenário e terminou o que havia começado.
- Nunca mais faça isso, Armando.
- Nunca mais farei, Elisa. Descontarei seu cheque amanhã pela metade e eu agradeço pela sessão.
E recolheu sua máquina, guardou em seu estojo. Elisa o olhava com olhos de quem não suportava mais sequer o flash, nela parecia existir amor, nele parecia existir desespero.
No outro dia Armando não conseguiu descontar o cheque, estava de ressaca, descontou então no próximo, o valor inteiro e nunca mais viu Elisa.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Permissão!

Essa noite eu permito!
Eu permito que você fique acordada até mais tarde.
Que você esqueça sua cama.
Essa noite eu permito que você me chame de otário.
Que me ache lendário.
Que me desfrute com os lábios.
Essa noite eu permito,
que você ja não durma,
que eu ja não hesite,
que a gente se coce.
Essa noite eu não quero,
que a noite tenha hora,
que o sol dite o fim,
da nossa noite que permito.
Essa noite não,
não aos grilos,
não às estrelas,
não aos carros.
Essa noite eu quero,
que você saiba,
que estar ao seu lado
é como se pudesse
dar um beijo de despedida na dor,
virando de costas,
sorrindo de desdem,
de boca cheia,
armado até os dentes,
de munição pra viver.

Você sabe morrer? Você não tem colhões pra morrer!

Você sabe morrer?
Você sabe morrer ao comer batatas fritas?
E você sabe morrer ao tomar uma cerveja?
Você sabe morrer?
Você sabe morrer ao enterrar uma bola de basquete,
ou a cobrar uma falta?
Você sabe morrer ao quebrar ovos para
fazer um bolo?
Você sabe morrer ao dormir?
Você sabe morrer?
Você sabe morrer ao desdizer
uma jura de amor?
Você sabe matar!
Você sabe morrer ao ver um show do Paul?
Você sabe morrer ao tocar yer blues, John?
Você sabe matar!
Sim, eu estou sozinho, mas ainda não sei morrer,
nem escrevendo um poema eu sei morrer.
Você sabe morrer?
Matar você sabe!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Filho da puta, Vadia e correções.

Havia me cansado, qualquer mulher que fazia parte do meu passado me taxa de egoísta, fracassado ou bêbado sem fundamento. Não podia esperar que as coisas entrassem de acordo com o que eu acreditava, as coisas não entrariam em acordo com o que eu acreditava, você sabe em que acreditar quando tudo que você acreditou foi jogado no limbo por alguem?
Certo que havia errado com uma delas, aliás, com todas. Mas jamais deixei de ser sincero, quando se percebe que as coisas estão escorrendo pro ralo é melhor deixar ir, se tampar o ralo, pode inundar sua vida com água suja, de corpos cansados, de suores inúteis e prazeres disfuncionais.
E se é pra ser assim, viva da melhor forma possível, não adote mais as coisas que adotava quando era alguém complacente, você deixa de ser complacente quando a outra pessoa age como uma inútil e faz de tudo pra te causar danos.
O bar era um bom lugar pra se submeter à fuga. Cervejas, mulheres com blusas decotadas, idiotas falando sobre drogas e um pouco musica pra relaxar. Até que uma das mulheres te olha e você a olha também, oferece a ela uma bebida, ela gosta da mesma que você, então já pode leva-la pra cama.

- Como é seu nome? – pergunto.
- Lídia, e o seu?
- Téo. As pessoas me conhecem aqui, como você não me conhece?
- Não costumo conhecer gente desinteressante.
- Entendo. Quer mais um conhaque?
- Talvez você não aguente me acompanhar, Téo.
- A gente pode tentar, Lídia.
- Prefiro não arriscar.

Ela se levanta, vai ao canto do bar, há um rapaz tocando algumas músicas, um outro a pega pelo braço, ela sorri, começam a dançar, me levanto, a puxo pelo braço, a jogo no chão, aponto meu dedo, a chamo de puta, falo pra ela pagar a porra do meu conhaque, se levanta, senta no lugar onde estávamos e o rapaz que estava com ela se desculpa e vai embora.

- Você é um filho da puta, Téo.
- E você é uma vadia.

Assim são os homens, em geral, na sua cultura, são péssimos. Subestimam as mulheres em tudo, seus carros, suas peças, seus jogos, seus gestos de amor.E enquanto as mulheres ligarem tanto em demonstrar a verdadeira face deles, continuarão agindo assim, porque os homens são, coma s mulheres que têm, exatamente o que elas amam que não sejam.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Bebida, mulheres e desistência.

Não procriava sinapses, meu cérebro estava fora da realidade, nos bares não encontrava realizações, o meu quarto era em mim a constatação de que o mundo não me servia agora.
A bebida era uma espécie de fuga, mas não havia nada que eu quisesse desbancar, a bebida ja não era fuga então, a bebida era só um êxtase, um caminho, procedimento esperado para alcançar a alquimia. E não havia limites,era o meu remédio, algo que esperava desde sempre que me curasse.
A ausência de mulheres, enfim, estava me fazendo bem. A falta de telefonemas, o excesso de músicas com violões de aço e um contato breve com o mundo cada vez que ia ao banheiro, havia uma janela, o mundo estava vivendo la fora, não o suportava.
A falta de suas saias curtas, suas pernas grossas, suas reclamações sobre a vida, seus amigos idiotas, seus apontamentos sobre o meu humor, suas reclamações por eu
andar pelado pela casa, por cagar de porta aberta, por me masturbar enquanto assistem programas de fofocas na tevê que um dia eu vou vender e elas jamais me amarão novamente.
As mulheres jamais me amarão novamente, creio que qualquer cachorro que eu arrume jamais me amará, qualquer bar que eu vá não haverá alguem pra me salvar. Era isso,as pessoas estavam todas à busca da salvação, mas não havia mais chance. Era assim a vida, você se prepara pra luta, coloca o roupão, o juiz chama teu nome, você sobe no ring, as pessoas te aplaudem, a maioria vaia, a garota passa com a placa do primeiro round, você o suporta, ela sobe no segundo, você com o supercílio cortado, mas ainda consegue ver a bunda redonda dela, aguenta por mais algum tempo e no terceiro round, quando ela sobe no ring, você mesmo joga a toalha. E seu técnico te olha feio, você
perde, por desistência. E vai pra casa humilhado.

Mentira e Bach.

E na caixa de correios,
uma carta.
Algo diz: fomos uma mentira.
E você finge que acredita.
Alguem que cre
que sua vida foi uma mentira
não te procuraria pra dizer:
você foi uma mentira.
E você rasga a carta.
Entra na sua casa,
abre uma cerveja,
liga pra outra mulher,
diz que sente falta do sexo
e desliga.
E liga sua tevê,
não há nada.
Liga seu rádio,
Bach não interessa,
e termina sua cerveja,
dorme e não quer acordar mais,
mas sempre acorda.

domingo, 15 de abril de 2012

Sexo, dor de cabeça e sono.

E são oito horas da noite,

você repousa nos colchões de solteiro juntados,

você e sua mulher.

Ela sente dor de cabeça,

ela está abalada,

com um tédio sem fim.

E você não sabe como prosseguir,

ela abre a blusa e diz:

amor, toca meus peitos, me faça relaxar.

E você toca os peitos dela,

e lambe os mamilos.

A vida com dor de cabeça,

pra alguns,

pode ser bem pior.

E ela vira as pernas

por cima das suas.

E você se encaixa nela,

Na tevê, um filme de rock'n'roll,

você fode sua mulher

e a dor de cabeça dela.

Até que você goza.

Ela pergunta se você realmente a ama,

e você vira para o lado.

Ela continua falando,

sobre a dor de cabeça,

e você relaxado, simplesmente, dorme!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Cervejas e sorrisos circenses.

Cheguei no bar, eu estava a espera de alguem. Uma mesa de dois lugares. Um deles estava vazio. Uma cerveja e um copo de conhaque.
No telefone uma mensagem: Téo, ja chego. Atrasarei-me um pouco. Essa chuva dessa cidade, esse transito, mas prepare a minha cerveja.
Ela mal imaginava, que ali, na mesa de dois lugares, algo alem da cerveja a esperava com afinco.
- Oi, Téo.
- Olá, meu bem. Como vai?
- Vou bem, Téo.
Levantei-me, dei-lhe um abraço e um beijo.
- Senta-se. - eu disse.
Ela tinha os olhos mais lindos que ja pude ver, e a tua boca dizia 'tu' como nenhuma outra havia dito. E teus olhos, brilhavam cores circenses, guarda-chuvas de frevo e tua boca tinha a carne que meu olhos adoravam.
- Essa cerveja está gelada, Téo.
- Pois é, por isso gosto desse lugar.
Você pode passar dias longe da felicidade e em poucos momentos você pode passar a felicidade de dias.
- Agora que você ja chegou, que ja tomamos a cerveja, poderíamos ir pra minha casa?
- Tudo bem, Téo.
Paguei a conta, recolhi o maço de cigarros da mesa, despedi-me do dono do bar e segurei sua mão.
- Seja bem-vinda.
- Gostei da tua casa vazia.
- Ela fica assim sempre, ficará sempre.
Liguei o rádio, tocava Bach, não era hora, troquei por uma coisa que ela tambem gostava, e Beth Gibbons cantava: give me a reason to love you!
- Separei esse vinho pra gente, Luana. É o meu vinho preferido - casillero del diablo.
Ela sorriu.
- Era tão esperado por ti que eu viesse à sua casa, Téo?
- Era.
Sorriu novamente.
Sentou-se à minha frente no sofá, com um vestido roxo, suas pernas, lindas, talvez havia feito com a intenção de me provocar, visto que eu sempre havia dito que adorava pernas, estavam cada vez mais à mostra.
Dado momento, levantou o vestido um pouco mais.
- Erga mais um pouco teu vestido.
- Ainda mais?
- Sim, ainda mais.
Tomava meu vinho, olhava tuas pernas, nada dizia, o silêncio não incomodava. Fui até o sofá, beijei sua boca, levantei seu vestido, coloquei a mão por dentro da sua calcinha, estava molhada. Beijei sua boca com mais lingua agora.
- Seu beijo é bom, Luana.
- Você quer me engolir, Téo.
Eu era um adolescente, a joguei na cama, de barriga pra baixo, fiz uma massagem em suas costas, beijei-a na mesma intensidade. Trepamos, gozamos, não uma ou duas vezes, infinitas. O cérebro brindava, o coração palpitava na mesma intensidade do pau. Era uma nova descoberta, era um novo homem, com a experiência de um amor falido e com a perspicácia de um homem fodido.
- Você é um puto, Téo.
- Tudo bem.
Beijei sua testa, com mais sensibilidade que quando beijei sua boca ou seus peitos. Não sabia onde estavam meus cigarros, pouco me importava tambem. Havia cinzas demais dentro de mim, era hora de tornar aquele monte de escuridão e torpor, em luz e sorriso. Ela olhou pra mim e junto à Beth Gibbons cantou: give me a reason to be a woman. Virei o restante do meu vinho, direto na garrafa. Olhei nos teus olhos e sorri. Estava ali, em abril, meu primeiro sorriso desde sempre.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Amor, cérebro e palpitações.

Tu não estavas à vista,
mas eu te olhava.
E meus olhos piscavam,
cheios de lágrimas,
num ritmo sonar.
Havia duas de você,
a que segurava o copo,
e a que me cedia o colo.
Na borda do copo,
tua boca.
E na borda da tua boca,
meu nome.
E meu nome sujo,
purificava-se
nos teus
lábios filtros.
Já não era mais um homem,
e infantilizado
pelo sentimento vil,
tu não estavas à vista.
Eu não te olhava mais,
e nas bordas dos copos,
minha boca,
e na borda da minha boca,
outras bocas.
E na borda das outras bocas,
ilusão.
Enquanto meu cérebro
palpitava teu nome
já limpo.
De outras vidas,
limpo.
De outros homens,
limpo.
De meus sonhos,
limpo.
Era então
amor.
E do amor
nascera
o sujo,
pro amor
nascera teu nome a
palpitar
em meu cérebro.

sacana, canalha e sexo.

- Téo?
- Sim.
- Te conheço.
- legal.
- você é aquele cara dos textos sacanas.
- nunca escrevi algo sacana.
- ué, mas você fala de putaria.
- putaria não é sacana.
- você quer um conhaque, Téo?
- já estou tomando, obrigado.
- uma amiga minha já deu pra você.
- deve ter sido terrível pra ela.
- ela disse que você é canalha, Téo.
- eu talvez esteja começando a acreditar.
- adoro homens cachorros.
- que pena. Sou no máximo canalha.
- você mora longe, Téo?
- considerável.
- Quer carona? Ofereço carona e carinho.
- tenho sapatos novos, sabe. Compro sapatos novos só depois de muito usar os antigos, preciso acostumar-me com eles, mas obrigado por oferecer a carona. E quanto ao carinho, sou canalha demais pra merecê-lo.
- Téo, você pode me comer hoje?
- tudo bem. Garçom, a conta por favor...
- eu pago, Téo.
- Ok. Te espero lá fora.

...

terça-feira, 3 de abril de 2012

Roto.

Seu maior erro,
não é estar entre os teus.
Seu maior erro,
é a sua palavra.
Água de uma fonte rota,
triste demais pra um pouco de felicidade.
Teus olhos findos,
sorriem noturnamente.
Embebedando-se em dias torpes,
Deus não está mais aí.
Mas até aí,
sem problemas.
Ele não está aqui tambem.
Você age,
maldosamente.
Teus nãos,
afunilam a graça,
e entope o trecho,
que os sins coloridos,
passariam
brindando o amor.

quinta-feira, 29 de março de 2012

doce.

você tem sido como um mingau de aveia, pra minha fraqueza. Você tem me sustentado. Eu tenho medo, talvez receio, de dizer tudo isso. Porque não é justo eu lhe dar toda essa carga, mesmo sem haver promessa alguma.
mas no fundo, não é uma carga, no fundo é um balão azul, outro vermelho, outro verde e um pedaço de bolo com uns docinhos de festa infantil fazendo uma surpresa dentro de mim!

terça-feira, 27 de março de 2012

mentiras, livros e sexo.

Ela desdenhava de mim, dizia que o dia que eu falasse algo que prestasse, ela me pagava uma cerveja, enquanto isso, me pagava um boquete. Daqueles.
E você sabe, menina. Que eu fui um bom homem pra você, que te dei flores, amores, cervejas, sexo - que você sempre elogiou - sempre não, até terminarmos e você dizer que era péssimo, só pra me atacar.
Lembrar-se-á que eu era o homem que te segurava a mão pra atravessar a rua, e quando você for atravessar a rua, com outro homem, ele não vai ser tão protetor quando fora meu corpo.
E você vai saber, que não se pode esquecer, que das coisas mais vis que nos acometemos, o amor era a mais gritante.
E você vai tomar seus cafés e ao olhar para a xícara, verás na boda, que nem os deuses te aprovam com outro protetor.
E você um dia vai ler meus textos, e elogiará enfim, porque nem tudo é musica de Tom Jobim e ao menos, na literatura, não me taxarás mais de desafinado.
E lembrará que teus livros, estes teus escritores prediletos, vieram de minha predileção.
Quando eu escrever um livro, vou contar sobre as palavras que usei em forma de mentira pra te levar pra cama e meu livro nao tera fim!

Mulheres, leis e assédio!

Meu pai dizia que antigamente, no forró, roçar uma mulher era coisa pra cabra-da-peste, que era preciso gana e um pouco de ritmo. E eu me lembro ainda menino, meus amigos mais velhos, assobiando para uma mulher daquelas que passasse na calçada. Com os cabelos escorridos, saia ou calça que faziam com que sua bunda se agigantasse e os homens inspiravam o ar e soltavam um saudoso: fiu-fiu. Não sei se na inocência, mas crime não era. E a mulher sorria, com o canto da boca e passava o dia feliz com os elogios daqueles marmanjos pobres e cervejeiros da minha vila.

Com o passar dos anos, fui aprendendo a elogiar as guapas que passavam à minha frente e com muito esmero, mandava um 'fiu-fiu' pra uma prenda que passasse por ali. E sem falta de respeito e sem o crime, e sem o assédio.

E uma vez uma delas me disse: obrigado, meu rapaz. Mas você é muito novo pra saber o que é uma mulher gostosa ou não.

Eu não ligava, pra mim, no auge da adolescência, mulher gostosa era aquela que não acabrunhava minha mão, que me deixava, em meus pensamentos sólidos, à revelia da minha paixão.

Aprendi a lidar com algumas delas, e uma vez, um tapa no rosto, despertara minha primeira paixão. Os homens malandros, os pedreiros bêbados, os homens do bar mercenários, todos, eram os mesmos quando passava uma mulher vestida como uma deusa. Era ali, uma forma de adoração, o melhor do respeito que os homens podiam doar, o melhor do elogio que elas podiam receber.

Agora leio, que a cantada é assédio, que as mulheres não são objetos - e quem um dia achou que eram? - com certeza um homem que acha isso de uma mulher, jamais a achou gostosa pela bunda, pelos lábios, pelos cabelos ou pelos olhos e quem sabe, por um 'eu te amo' pós-coito.

Fato que as ameaças constitucionais, são tão chatas, tão ridículas e tão feias, que se fosse uma mulher, não receberia um 'fiu-fiu' ou 'gostosa' de homem algum na face da terra. Só de um politico ou outro, talvez!

sábado, 10 de março de 2012

Poema, conhaque e punhetas.

- Bom dia, Téo.
- Bom dia.
Era branca, como descrevia, dois olhos, nariz e boca, nada comuns.
Ana Cristina César, tu me lembras.
Você não acredita. Mas é uma honra.
- Quer um conhaque?
- Não, Téo. É hora do café-da-manhã!
Que tola.
Ela entrava esvoaçante, seus cabelos, iguais.
Você está aí?
Porque parece de mentira.
Duas coisas que precisam ser ditas. A primeira: você não é ruiva natural. Quando eu lia Bukowski, aos 15 anos, no banheiro da escola, cabulando aula, entre um intervalo e outro, eu socava uma bronha pra uma ruiva daquelas que ele citava. E você me pergunta se uma ruiva não natural, tambem merece uma punhetinha - não sei.
A segunda: preciso conhecer mais, pra saber, sobre a punheta. E não basta lê-la.
Você não merece uma punheta agora. Muito menos eu uma siririca.
Você sabe que tua arte é um adendo?
E você assim, entre palavras e ações, entre vertigios e dissimulações, soa-me como uma atriz fadada à morte.
Mas lógico. Com estes olhos. Com estes cabelos. Com estas palavras. Estes textos. Estes contos. Estas prosas. Sexismo todo. Brilho todo. Andar todo. Quase que me esqueço de lembrar que és humana. E és.
Morreremos.
Com ou sem conhaque no café-da-manhã, morreremos.
Com ou sem punheta e poesia, morreremos.
Então, sem perda de tempo, tome sua punheta. A morte pode adiantar tudo, mesmo o gozo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Foi, como foi!

Eu não era mais o mesmo homem da noite anterior. Acordara renovado, e entre poucas vezes, a cerveja não havia acabado com meu dia posterior. Acordara, um belo dia, ensolarado, havia brigado com qualquer pessoa, era a isso que minha vida se resumia, brigar, brigar, brigar... Fui à rodoviária, comprei uma passagem. Sei lá, qualquer lugar, o próximo ônibus, por favor, e fui.Deus, você não pode ser tão incólume assim, me ouça. Entrei no ônibus, uma moça loura, de belas pernas, ouvindo um funk carioca, com um short curto, as pernas pra fora, imaginei aquilo tudo rebolando num baile, desconcentrei, eu não queria e nem poderia me excitar aquela hora. Abri meu livro do Nelson Rodrigues, A Vida Como Ela É, e li, li muitos contos, todos incríveis, falando sobre machos e vagabundas, pois bem, minha vida estava voltando ao centro de mim e não de outra. Não de outros. Eu havia retomado o controle da situação. A loura tentou falar comigo, mas não dei bola, não gosto de mulheres atiradas. Chegando à cidade, havia um bar, uma cidade pequena, as pessoas se reuniam em um só lugar e ao que me parece, todos se conheciam. Um grupo de amigos bebendo cervejas de um lado, um outro senhor tomando sua dose de cachaça que tinha um valor fixado em um cartaz na parede: cachaça 51/velho barreiro; R$1,50! - Tirei algumas moedas do bolso, paguei uma dose para o senhor e pedi uma dupla pra mim, misturadas, velho barreiro e 51 e mandei pra dentro.Sentei-me à mesa ao lado de fora, o grupo de amigos reconhecera-me como um turista, ofereceram-me sua mesa, sentei-me, dois rapazes e um milhão de mulheres. Eu não podia ter mais sorte, Deus não era mais tão incólume assim. Perguntaram-me de onde era, o que fazia, eu não queria amigos, não novos amigos, seria muito trabalho pra alguem que estava somente a se aventurar em terras estranhas. Uma do grupo, esbelta, cabelos grande, claros, branca, como todo mundo parecia ser naquela cidade, brancos demais, pálidos demais, por isso eu preferia os negros, todos os negros me parecem mais dispostos à ventura, às emoções, no entanto, ela era linda, e sorria com os olhos, aquilo me cativava, tinha um vestido florido, suas pernas - e era isso que mais me atraía nas mulheres - estavam expostas e eu olhava, imaginava-me como um oleiro, com as mãos ali, ela em um torno e uma obra de arte sendo criada. Enfim, logo bebi outra dose de cachaça, por hora, não era isso que eu queria. Não era. Agradeci a companhia, havia um hotel ao lado do bar, despedi-me de todos e me indicaram o hotel por ser 'o melhor' e era tambem, fiquei sabendo depois, o único da cidade. Tomei um banho, tirei um cochilo, acordaria às 20hrs e isso era umas 18, para que os meus mais novos conhecidos e, consequentemente adversários, porque, ali no grupo, a moça que paquerei, parecia-me a mais assediada, tambem por isso não me empolguei muito, eram rapazes bonitos e endinheirados. E eu, com uma bolsa rasgada e roupa rota, não sobressairia. Às 20hrs o telefone do hotel toca, a recepcionista, Fabiana, informa: Boa noite, Sr. A sra tal lhe aguarda aqui embaixo. Eram os rapazes e as moças, não estava a fim de uma diversão, pensei em dormir mais, mas não, era uma moça bonita e valia o olhar. Desço,converso com a moça da recepção, era diferente da que havia me atendido, mudara o turno, Fabiana seu nome, olhos verdes, bonitos, um sotaque diferente, era assim que o interior me fascinava, suas mulheres, sua inocencia e suas bocas falando algo que eu não ouvia em qualquer lugar. Ainda que fossem as mesmas palavras de outras. Dou boa noite, me despeço, deixo a chave e quando saio na porta do hotel, esta lá, a moça, ainda mais bela que pela tarde, a luz natural, das estrelas, da lua, do verão, fez com que ela parecesse-um-milhão-de-sonhos-dentro-de-um-sonho-acordado. Mas havia um porém, ela estava sozinha... E eu não sabia se isso era bom ou ruim, porque eu não me controlaria mais! Perguntei se ela aceitaria uma pizza, o hotel oferecia o serviço, sugeri que comessemos no quarto, ela não hesitou, troquei a estadia de solteiro para casal e isso sim foi impactante. Subimos, conversamos, assistimos um filme, o hotel era realmente bom, a tevê era a cabo, havia um trem-fumaça na cidade, ela me contara os caminhos do trem, as fazendas que corta, os escravos que ja sofreram por ali. E só me lembro dos assuntos e não dos detalhes, porque agora havia tambem, um-milhão-de-palavras-e-caricias-dentro-de-uma-boca-tão-bela-quanto-os-olhos-que-sorriam. Segurei-a pelo cabelo... ... era a boca mais macia que ja havia beijado nos ultimos milhares de anos. Ela rubrou-se, mas não deixou de rir depois do beijo. Aquele riso que era fado, estava selado. Eu havia vencido os rapazes endinheirados e bonitos, talvez ela os preteriu, em troca do mistério e da aventura. A noite se deu como devia se dar, uma cidade pequena, o trem-fumaça triunfando a cidade, o barulho de um carro ou outro a cada meia-hora, os suores, o cheiro, a pizza fria e um 'tchau, preciso ir, Téo'. Fui ao bar, briguei mais um pouco com ninguem, bebi caipirinhas, chopes e ela ja devia dormir, feito princesa que era sorrindo e feito mulher que era tendo prazer. Eu não podia querer viver sempre assim, não se reduz a vida à aventuras, mas se um dia, ela aparecer de novo, aventuro-me, porque entre brigar e viver, prefiro viver, ainda que seja longe, ainda que seja caipira e ainda que o trem-fumaça me encha o saco a noite toda.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Bebado, cheers e malditas.

Pois é, tenho meus defeitos, minhas qualidades e ninguem alem de mim, aceita-os
completamente. Eu gosto da pinga com mel antes da cerveja e do conhaque
durante. Eu gosto de mulheres loucas e aquelas que não fazem questão de ser.
Tenho anunciado avidamente o meu amor pela literatura e a literatura como forma
de protesto, mas alguns poucos, quase ninguém, acredita na possibilidade da
coisa. Manias infundadas de falar palavrão até a borda do rabo virar um
alfabeto vândalo. Não me importo em viver sem sexo, mas me importo em viver sem
bebida, mas eu amo sexo quando tenho a oportunidade, mas não o idolatro quando
distante. E veja você, tenho duas bolas e um pau, que já deram conta, se
marcar, até de uma de suas mães.
Agora não me venha com mania idiota de me taxar de maluco, retardado ou tolo. Não sou seu
rótulo abusivo de virtudes derrotadas, não me compare à sua vida, porque pra
mim, ainda que no chão de um bar, minha virtude é vitoriosa. Não se iluda com
os preceitos de amor e morte que prego em meus textos, muito menos se iluda com
as trepadas vis que tenho às vezes, porque pra mim, elas parecem muito mais
odiosas, na hora, que depois. E se você um dia fez parte de uma trepada minha,
daquelas mecânicas, em que não te ofereci mais que a terceira vez, sinta-se
idiotamente rebaixada, mulher. Porque se me julgas o magistral dos bêbados sujos,
fostes desprezada por mim.
E eu estou aqui, na minha cama, ansioso por um gole de conhaque, te dou mais alguns
minutos pra bater à minha porta e me gratificar com isso. Mas, como sou sempre,
realista demais, a porta vai continuar fechada e não haverá batida. O telefone
não tocará mais com um de seus números e eu vou ficar feliz assim, por me
evitar, complacente, com a tua ausência taciturna. Assim sendo, abro eu mesmo
meu conhaque, sirvo-me a mim e brindo à tua maldita existência. CHEERS, malditas.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

velho, puta e desconhecida.

E já não mais acreditava em coincidência, era um homem com dores, bêbado, mas com dores.
Sentara ao meu lado, dissera coisas incríveis sobre como os urubus degustam suas carniças e os comparava às mulheres. Logo, de pronto, não hesitei em concordar.
Tirou dois cigarros do bolso, jogou um à minha frente, no balcão, e disse: fume um desses você
verá que gosto bom estes têm! Peguei meu isqueiro, acendi, traguei e tossi mais
que havia tossido com qualquer cigarro na minha vida, então apaguei no meu
conhaque e virei o copo. O velho sorriu da minha cara e me disse que era assim
mesmo, que na vida, a gente só pode experimentar o que estamos dispostos a
aguentar. Levantei-me, fui ao banheiro e quando voltei, ele não estava mais.
Perguntei ao dono do bar se o velho havia saído, ele não me respondeu, estava ocupado
recebendo um boquete de uma vagabunda que não tinha dinheiro pra pagar a conta.
Deixei o dinheiro no balcão e fui embora.
Chegando em casa, estava frio, eu não me lembrava de muita coisa do dia anterior, mas tinha
roupas no chão, alguma mulher veio e fora embora pelada... provavelmente.
Porque havia uma vestimenta completa ali, calcinha, calça, sutiã, blusinha com
uma foto de Marylin Monroe. Aos poucos fui recobrando a figura da mulher, não
lembrava-me do nome, estava fadado ao fracasso e subitamente a porta do
banheiro se abre, era linda, loura, olhos claros e um par de peitos
maravilhosos. Não era exatamente a que eu havia me lembrado, mas era mais
surpreendente.
- Oi, Téo. Como foi no bar?
- Foi tudo bem.

E eu a olhava,
dissecando, tudo, corpo, olhos, alma...

- Você não se lembra de nada de ontem, né?
- É, não me lembro de nada. – Enquanto eu colocava meu disco do Jeff Buckley pra rolar.
- Eu te lembro então. Você foi à zona, eu trabalho lá, então você me pediu pra vir morar
contigo, que me tiraria daquela vida. Mas você estava tão bêbado, que eu não
vim pra sua casa por escolha, eu gostei muito de você, eu vim te trazer, dormi
um pouco contigo, você insistia em trepar comigo, mas você estava tão bêbado
que não aguentou nada. Mas não se preocupe, só estava tomando um banho, está
aqui a chave de seu carro, vou embora, jajá começa meu expediente de novo e se
você quiser ir até lá, sem estar bêbado e me fizer o mesmo convite, eu aceito.
- Tudo bem, bom trabalho.

Dormi um pouco, não me lembrava como havia amanhecido, nem como havia deixado-a em casa e ido pro bar. Ao passo que dormia, meu corpo suava, dormi muito pouco, acordei muito
cansado, peguei minha garrafa de vodca e tomei inteira. Eu pensava naquela
mulher, eu pensava em outra também, mas agora não mais com tanto amor, esta
outra, inocente mulher, havia me feito apagar um pouco aquela que houvera me
deixado. O amor tem destas coisas, você sofre dias, você vai à bares, igrejas,
casas de amigos pra tentar dissuadi-lo e quando menos espera, numa zona, você
encontra paz. Tomei um banho, estava bêbado, não conseguia dirigir, mas sabia
exatamente o que queria... Fui à zona, perguntei sobre ela, não lembrava seu
nome, vi todas as mulheres da casa, nenhuma era ela. Ninguem a conhecia – você pode
virar amante de muitas mulheres, mas só uma é realmente sua amante – e meus
olhos brilhavam de tristeza, fundos e atormentados, batia na porta dos quartos,
atazanava todo mundo, um segurança preto bateu na minha cara e dizia: acorda,
Filho da puta. Quem se apaixona por puta é corno.
Fui pro bar, não a havia encontrado, bebi muito, muito mais que havia bebido na noite que a
havia encontrado e quando acordei, havia uma mulher ao meu lado, que não sabia
seu nome, nem sua idade, nem seus dotes, minha cabeça explodia e aí então, eu a
pedi em casamento e ela não aceitou. Foi-se embora e nunca mais a vi. E era
assim, desde o começo, as pessoas passavam pela minha vida só por momentos e na
maioria das vezes eu não lembrava exatamente quem eram, nem seus nomes e muito
menos como as havia conhecido. Decidi então parar de conhece-las e bebia no
escuro do quarto, como um corpo podre à espera da puta, da santa ou do velho
barbado e conselheiro.

bar, amigo e sol!

Você vai conseguir,
com um pouco de espaço e tempo,
viver tudo que ainda não tinha vivido.
E as dores,
desamores,
bebidas,
tudo,
será apenas questão de gosto.
E os teus melhores amigos
te acolherão num bar,
quando nada mais interessa.
E um deles não beberá nada.
Pra ensinar você que o horizonte
não acaba ali.
E você agradecerá.
Será o melhor de tudo,
e quando pensar que tudo está perdido.
Amanhecerá num dia de sol,
com teus olhares renovados,
e agradecerá teu amigo pela companhia.
E as coisas que não faziam mais sentido,
voltarão a fazer.
A vida,
a amizade,
teu amigo dizendo que você pode,
e você pode.
Aí vai se levantar,
e no dia de sol,
céu azul e gaivotas
te farão acreditar que é um novo começo.
Porque é um novo começo,
Agora, amanhã e depois.
E mesmo quando o dia estiver nublado,
será um começo.
E teu amigo, talvez precise de você,
e você não beberá,
pra conforta-lo,
porque pro horizonte basta uma luz,
e pra você, basta um bom amigo.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

felicidade, segundo e desfecho.


Da felicidade à queda.

 

 Samantha era feliz, havia arrumado um bom homem, trabalhador, filho de mecânico e doceira, tinha um sogro pra trocar o pneu de seu carro e uma sogra pra adoçar o aniversário dos filhos, quando fosse mãe.
   Era, por hora, feliz. Mas não sabia ou previa o que lhe esperava. Alexandre era seu homem, trabalhador, acordava cedo, chegava tarde, ganhava o suficiente pra sobreviverem, por culpa do amor, iriam se casar.
   A casa seria construída em cima da casa dos sogros, um puxadinho sei lá, estas coisas que costumam inventar. E então fizeram, então construíram, casaram-se. Mas o inesperado, aquilo que ela não constatava na solteirice, acontecera. Alexandre era um péssimo amante, trepava mal pra diabo. Então Samantha procurou fora de casa, e alguns meses depois, um amigo que os fizera visita, vira uma carta em cima de uma cômoda, enquanto Alexandre estava por chegar, e lera, constatara que era uma carta de um amante de Samantha, guardou-a, mostrou ao amigo mais tarde e Samantha então, teve seu casamento amputado, ela amava muito Alexandre, mas ela amava ainda mais o sexo bem feito. Dissera-lhe palavras horríveis, Alexandre não tinha reação, e ela dizia: pra você perceber, Alexandre. Tu és mole até quando és corno. Então fizera a vida dele, um inferno, maldissera seu nome por toda a cidade e saiu da casa em busca do amante. Que a desprezou. Pro amante, Samantha também só servia sexualmente. No fundo pra ela, o amante também.



O segundo.



   Samanta havia deixado o trabalho na hora do almoço e ido ao parque passear. Conhecera então Marcos, e Marcos era miúdo, feio, não tinha graça. Samantha então achara que talvez, por estes critérios, Marcos trepasse bem. E resolveu tentar. A primeira vez foi boa, mas Marcos teve que ir embora. Samantha gostava de apanhar, de um homem que tivesse pegada, e Marcos trepava bem, mas não batia. Não puxava seu cabelo. Então, depois de alguns meses, quando já, involuntariamente, Samantha morava com Marcos. Arrumou então um amante. Edson era um homem viril. Tatuado. Malhava o dia inteiro. Tinha músculos viscosos e Samantha se deliciava com seu pau. Então largou Marcos e foi morar com Edson.



O terceiro, desfecho.



   Samantha não passava bons dias, tinha um ótimo sexo, mas não tinha um homem que trabalhasse por ela, para ajuda-la ao menos, teve que começar a trabalhar mais, e, com isso, cansava-se mais, o sexo não tinha mais tanto prazer.
   Certo dia Edson arrumou uma amante, comia-a sempre. E não procurava mais Samantha em casa. Samantha infeliz, pregou uma armadilha pro Edson; quando chegasse, o provocaria, até ele querer come-la. E assim o fez. Pegou-o numa bela armadilha, Edson socava em Samantha, ela pediu pra ir mais forte, pra bater mais. Ela queria ficar roxa. Então Edson a pegou, bateu, bateu na cara, na bunda, nas costas, nas coxas...
   Ao acordar, Samantha foi até a delegacia mais próxima, prestou queixa. Edson foi procurado pela polícia. Foi preso.
   Alguns dias depois, infeliz com a vida e os desamores, Samantha questionara o que procurava. Um clichê absurdo, todo mundo, em todo momento da vida, questiona o que se passa, o por quê dos erros, o por quê das falhas. Samantha então descobrira que o problema não eram os outros, o problema, era seu coração, frio feito gelo seco, ardia e queimava. Samantha então teve uma ideia. Tocou fogo na casa, deitou-se na cama e esperou o fogo, que já ardia a casa, acender seu coração.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Tu, és... por favor.

Não, tu não és a demanda do flagelo. Tu és a minha maior moradia. Tu não és a chama, tu não queimas, tu não se apagas dentro de mim. Não, tu só não és o carinho, muito menos o desejo. Tu não és a porção, muito menos o conteúdo. Não, tu não és os pés suportando o peso. Tu não és o ás em detrimento da perda. Tu não és o jogo, não, tu não és. Tu és a alma, que reluz em brilho na escuridão do meu norte. Tu és o amor, que dana e pretere a tristeza. Tu és essa falta toda de violência. Tu és e sempre será os planos dos meus filhos. Tu és o ontem, tu és o amanhã, a ti pertence o agora. Tu és a folha em seda do meu corpo escrito.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Bar, mulher e saudade.

Estávamos os três na mesa do bar. Algumas garrafas de cerveja no canto da parede, aquilo, já era tudo que havíamos tomado, mais conhaque, mais pinga com mel, mais rock’n’roll e uma dúzia de mulheres vazias, como nós. Estávamos bêbados e discutíamos sobre futebol. Não éramos os mais bonitos do bar, muito menos os mais amáveis, mas tinha algo na gente, que ninguém tinha, eu não sei ainda, mas um dia eu descubro.
Karen chega e nos cumprimenta com beijo no rosto, a mim, é mais receptiva, senta no meu colo e me diz ao pé do ouvido: essa noite posso ser tudo que você quiser.
Levanto, a pego pelo cabelo, e dou um beijo quente em sua boca. Ela sorri, diz que vai sofrer, com cara de safada, querendo sofrer e no meio do bar, coloca a mão por dentro da minha calça, pega no meu pau e ainda dizendo ao pé do meu ouvido: quero brincar com ele hoje. E fomos pra minha casa. Tirou um pouco de cocaína do bolso, cheirou. Eu não quis, não era algo que podia arriscar mais. Disse que com a cocaína ficaria mais elétrica, meteria ainda mais, eu já sabia, não era a primeira vez, mas com ela, tudo parecia primeira vez. Ela me dava calafrios. Era uma mulher de um porte intelectual sem medidas, conhecia de tudo, fazia de tudo, era artista plástica, cantava, dançava, rebolava, como nenhuma outra. Eu era apaixonado por aquela mulher. Mas não sabíamos disso, porque tudo que nos apetecia era sexo e não carinho.
Olhei em teus olhos, segurei seus cabelos, joguei-a na cama, arranquei sua roupa, chupei seus peitos, sua boceta, eu enfiei meu pau o mais fundo que podia e gozei dentro dela. Eu queria aquela mulher, eu tive, gozamos como nunca... Acendi um cigarro, ela cheirou outra carreira de cocaína e então, pedi pra ir embora, já era hora. Rasgou meu ‘mulheres’ do Bukowski, ficou emputecida porque pedi pra ir embora, a puxei pelos cabelos joguei na rua e mandei, implorei, pedi, rastejei pra que nunca mais aparecesse. E nunca mais apareceu. Às vezes o álcool não supre a falta de uma boa mulher, nem amigos feios, nem rock’n’roll, nem pinga com mel ou muito menos o conhaque. Claro que não. O álcool não supre os problemas, mas os incomoda. Nos faz preteri-los em detrimento da dor.
Hoje acordei com febre, chamei teu nome três vezes, pedi pra que alguém a ajudasse, Karen. Meus olhos não funcionam mais tão bem e meus ouvidos não te ouviriam se você quisesse pedir pra eu te comer de novo. Meu pulmão continua sangrando, minha tosse é insuportável. Escute: cuide-se. Pare com a droga, arrumAe um homem que não vá te bater por causa de um livro, mas que te ame tanto quanto aquele que o fez. Perdoa-me, baby... Se eu pudesse escolher viver novamente, sob o efeito do Eterno Retorno, eu viveria. Você me foi um prazer.. Toca agora a musica de Gardel, que tanto gostávamos: Cuantas veces embozada, una lagrima assomada, yo no pude contener.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sem mim.

Eu não tinha escolha,
tinha que sobressair,
de alguns homens do local,
eu era o mais pervertido e o mais feio.
Ofereci um conhaque,
dois cigarros,
uma moeda pro jukebox.
Aceitou-os prontamente.
Tinha pele branca.
Cabelos negros.
Olhos castanhos.
Um corpo bonito,
peitos pequenos,
bunda arrebitada,
eu imaginava minha mão em sua cintura.
E foi assim.
Depois de tudo que dei,
depois de tudo que ela quis,
eu dei.
E me maltratou,
foi-se embora.

Não com algum homem,

mas sem mim.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Homem, beats e correr.

Um homem caminha,
e quase que não da pra acompanha-lo.
Há pessoas sujas no caminho e alguns mendigos.
Com seu violão à espera da nota perfeita no case,
continua a caminhar.
Deus, ele diz, há algumas pessoas famintas,
e ele então, tira seu violão da caixa.
Os pássaros em coral.
As mulheres com suas saias a se levantar.
Os bares com alguns mortos, outros nem tanto.
Mortos e meio-mortos.
Sua mulher corre à beira da praia.
Ele está saudoso.
Eis que surgem algumas notas,
e a musica diz: hey, hey, my, my...
É Neil Young no seu violão semi-acustico.
Um livro do Stendhal dentro da caixa do violão.
Outro de Ferlinghetti.
E ele toca seu violão bem alto.
As pessoas continuam sujas.
As saias das mulheres começam a descer.
Todo mundo sabe,
Todo mundo vê:
que os acordes destoados,
que a desafinação da saudade.
Não tem conserto ali.
E não terá senão, à beira da praia. Correndo acompanhado.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Bichos, falta de arroz e indigencia.

O cachorro chama teu nome, me culpa por você não estar aqui...
... você não foi por minha causa, foi?
Aqueles discos que você levou, foi pra nunca mais voltar?
E se eu pedir, por favor, você os empresta pra eu ter o que escutar?
E aquela louça que está em cima da pia, é de quando?
Agora, o gato, o gato não, o gato culpa a ti.
Ele diz que foi você quem me desdenhou e me submeteu a isso.
E entre conhaques e cervejas, eu respiro essa porra desse cigarro que você deixou.
Mas os livros, aquele Decamerão, o Cartas na Rua, o On The Road, você levou.
Você deixou o livro do Desassossego e o Morangos Mofados.
Às vezes eu faço duas ou três orações e dou um gole no vinho.
As outras vezes eu somente bebo.
E aquele concerto de Mahler, que você gravou pra mim, você tambem levou.
Porra, aí é exagero, você nem gosta de Mahler.
O pássaro tá piando desde quando você bateu a porta,
E o caralho não para de cantar a quinta sinfonia.
Se você tivesse deixado ao menos arroz pronto
esses animais não me fariam sentir tanto sua falta.
Seria pior se você tivesse dado nomes a eles, mas eles não têm nome;
Nem Bukowski tem nome mais.
Mahler tambem não tem mais nome.
E eu tambem não tenho mais.