quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Caminhava, não tão só "nenhum de nós", caminhava. Uma caixa preta em seu caminho, alguns perfuradores de sonho faziam com que a paisagem fosse estragada ao pouco. Alguns estrondos musicais não reconhecia se Wagner, Chopin ou rock'n'roll. O céu escuro, sem estrelas, as pessoas sem face, não haviam rostos. Alguns Modigliani's nas paredes do tempo, alguns Chomsky's pelo pensamento perdidos. Não haviam notas musicais, também pudera, não sabiam tocar instrumentos; o que restara provinha dos povos que sabiam se encontrar nas idades de outrora.
E procurava o caminho, e a amava, por vezes havia discórdia, um que sumia o outro que não se achava e dizia ele: É como se eu não tivesse escolha, como se tudo me indicasse um único caminho, é como se tivesse que ir unicamente andando por ti, se tivesse que me prostrar, como que se eu tivesse que martirizar, como se meu sorriso, por ordem, só surgisse se eu fosse por ti. Como se eu não tivesse um par e fosse só ímpar, acontece que não quero ímpar e nem outro caminho. Não preciso de outra escolha.
E quando encontrou o caminho, o caminho andou sozinho.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Andando.

Estava no trem ao trem andara. Suado, feliz, perverso e apaixonado; mas a felicidade não provinha da paixão.
Com fones no ouvido, agora tocava "sex is on fire - Kings of leon" e batia o pé ao chão, mas queria agitar o corpo, seria banal se assim o fizesse. Lembrara-se de Tenessee Willians: O desejo é o oposto da morte. E continuava a desejar tudo que conhecia. Fez sexo ao decorrer da semana e ao domingo inteiro.
Era segunda-feira, não estava tão deprimente quanto tantas outras, por mais que havia céu nublado, por mais que havia malfeitores e pessoas feias no trem.
Lembrara-se do amor, o coração bateu mais forte, chamou-a pelo nome, ela estava longe, foi muito baixo, não gritou, gritar seria banal como agitar o corpo, então calou-se.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Bittersweet Symphony

É desesperador, o vento move tudo.
Tudo que quer o vento leva,
as melhores coisas do mundo,
é o vento quem arrasta.

Leva a paz, cala a calmaria,
ele é anáfora, às pipas euforia,
traduz-me ó vento o teu quebrante,
as clausuras do teu soar.

Vento pequenino e gigante,
dá-me o poder de carregar,
de borboletas a diamantes,
é outro meu desejar.

São dor e medo o teu sopro,
Agonia, tristeza e nojo.
Luto eterno por quem levou-me,
e no meu assopro vens quente do inferno.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

É!!

"Amei você até sua ida, quis um pouco de você e tive muito. Sua justa clareza me fez mais homem e por raros momentos menino como deveria ser. Queria ter um lacuna inc. comigo, ou que fosse tão fácil te esquecer, como foi te amar."

domingo, 9 de novembro de 2008

no name II

Porque era presente sua companhia, mas não existia condicionalmente. Informam-me que no mundo há átomos, mas nada te constitui; nem protoplasma.
Não há anseios mais, não há focos no nosso torpor, não há paz, não há carinho, não há atenção. O futuro é esse agora, eu sozinho e você a andar por aí.
Quando viemos, filmamos, lembra-se do filme que fizemos? Lembra-se das cores? Lembra-se como eram os passos na praça? Lembra aquele banco que sentamos? Lembra aquele desejo árduo de fazer amor no banco da praça? Lembra como éramos cheio deles? Mas tão cheios que explodimos e não queremos mais nada agora. Se eu pudesse te dizer, meu amor. Era como acordar a uma da manhã e abrir a geladeira, a luz incomodava, não havia nada além de água, acho que estou pobre novamente.
Agora acordo duas horas da manhã, não há geladeira, não há grades, não há água, minha boca seca, meus dentes roçam, minha alma sai e Deus não existe mais. É como se eu quisesse dançar uma valsa, mas não não dá pra segurar na mão do vento e nem sentir seu cheiro nele.

sábado, 8 de novembro de 2008

Conto do Telefone - Anderson Volpato.

Não é possível saber ao certo quantas imagens se obscurecem e se esclarecem momentos antes que uma pessoa adormeça. Acredito que os intervalos entre o sono e a consciência constituem um amplo portal para a passagem de nossos medos, fúrias, prazeres e, ao mesmo tempo, um descanso para o peso de nossas preocupações. São nevoeiros e abismos percorridos em minutos constituídos de outras propriedades. Foi no meio desta atmosfera embaçada, agradável e perigosa que um som familiar me despertou um dia desses.

O som pontiagudo e estilhaçado parecia dar braçadas no meio da obscuridade do meu estágio de entorpecimento. Parecia dar braçadas na escuridão do quarto, como um náufrago desesperado por ajuda.

Aos poucos fui retomando a consciência e percebi que o ruído ganhava forma e passou então a significar algo para mim: era o telefone! Levantei-me. A cabeça parecia pesada, pois quando esperamos algo avidamente, o cérebro parece só processar uma mesma informação, e o círculo vicioso torna-se matéria, pesa e fica estampado no rosto. A contradição presente em uma ansiedade sem esperança nos dá uma feição cadavérica, oblíqüa e rarefeita.

Minha cama fica não muito distante do aparelho. Mesmo assim, muitas vezes penso não chegar a tempo para atendê-lo. O telefone pode parar de tocar, penso. A pessoa do outro lado da linha pode imaginar que eu já esteja dormindo e desistir.

Às vezes, a saída do sono é como uma espécie de ressurreição. Ficamos um pouco parecidos a Lázaro saindo de suas ataduras e retornando progressivamente à vida. Ressuscito e desço da beliche com a esperança estampada nos vincos que o travesseiro fez no meu rosto.

O dia foi um pouco cansativo. Muitas coisas acontecem quando temos um campo perceptivo aberto e uma memória traiçoeira e sarcástica. Dizem que não existe vida interior e nem mesmo homem interior. Contudo, como explicar os duelos internos de quem se lembra da própria história e dos vultos do passado? Estamos em um teatro imaginário o tempo todo. Até mesmo diálogos solitários podem ser tecidos por horas em uma nova estrutura espaço/temporal. Na verdade, foram as falas flutuantes deste teatro que encheram as horas do meu dia antes da ligação.

Tendo descido do meu leito suspenso, meus pés quentes tocam o chão frio. Nunca encontro os chinelos. Meu corpo estranha a familiar posição de estar de pé. O incômodo que ele sente fisicamente é relativo ao incômodo que eu lhe proporciono mentalmente: a ansiedade em ouvir o irritante som do telefone. Imagino, cheio de certezas, o que há de latente neste som…

- Vamos lá! digo eu, vamos resolver logo o provável equívoco causado há alguns dias. Sinto um certo frescor curioso em ter esperanças tão simples no meio do grande ato da ressurreição do sono. Será apenas uma simples conversa!

À parte estas questões preliminares e claustrofóbicas, finalmente chego ao aparelho. Ainda tento tatear a parede na busca infrutífera pelo interruptor. Nem mesmo a luz mais forte seria capaz de clarear os torvelinhos das minhas sensações.

Fico frente a frente com o telefone. Minha mão hesita. Parece um bolo de dedos trêmulos e pálidos; parece um guardanapo embrulhado por mãos aflitas depois de uma refeição devorada sem apetite.

Enquanto isso, o som estridente, agora reconhecido enquanto estímulo opressor, continua. Minha esperança de que o aparelho pare de tocar e me deixe voltar para a cama é quase nula. Com certeza atenderei a ligação. É óbvio! Tenho algo muito importante a dizer! Sempre temos!

Lembro-me que certos momentos de indecisão como este já tiveram grande papel em minha nulidade social, profissional, espiritual etc, etc. Chega! Algo tão simples! Basta pegar o fone e ouvir a esperada interjeição ser pronunciada pela esperada voz: Alô!?...

Respiro fundo, verifico involuntariamente a escuridão do longo corredor ao meu lado e retiro o fone do gancho. Então, o som que penetra em meu ouvido esquerdo, ainda zumbindo pelos efeitos do sono, pode ser resumido graficamente em reticências esfumaçadas, porém, imponentes: Tum…! Tum…! Tum…! Tum…!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

É!

Voltando à chuva, veio e disse: Como você incomoda, baby.
Num momento entre aspas girar o mundo é paradoxo? Tudo bem que nada pode ter sentido, ter sentido e não ter é como uma pá, que enterra o demônio pra posteriormente enterrar a Deus. Quantas pás de barro são necessárias pra enterrar com a mesma pá o que nos mata ou há de nos matar, pra sermos enterrados, mas como assim? Não sei.
Do que a alma é constituída? De água. Do que o amor é constituído? De água. Do que o corpo é constituído? Muita água. Do que o mundo é constituído? Bem, sei que é maior que nós e contém muita água. Porra, que sede.
Meus pensamentos não têm hesitado em aparecer, mas de forma brusca, sem lapidação, sem entendimento, sem posteridade, sem virtude e sem verdades.
Aí, a chuva olhou pra ela e disse: Você quem me provoca, bem!
Mas com tanta água, como pode a sede? Com tanto sentimento, como pode sofrimento? Com tanta virtude, como pode mentiras? Com tanta dor, como pode desprezo?
Mas como assim? Eu te provoco? – repetiu a moça. E a chuva morreu de dia, a moça a noite e o rapaz mais tarde, amanhecendo. Como que o coração explodisse, por uma freada contínua, uma pisada amarga e um café sem gosto.

domingo, 2 de novembro de 2008

O amor é uma dádiva.
O amor é um alicerce de paz e carinho.
O amor é um flerte fatal de Deus na gente.
O amor é um cu de bêbado.
O amor é um papel higiênico - reciclado - depois de ter limpado uma febre tifóide.
O amor é uma devassa da Augusta.
O amor é um Carioca insuportável.
O amor é uma idiocracia do veneno mais mórbido da naja indiana Maklin.
O amor é um ralo de fossa.
O amor é uma merda que fede - O qual não vives sem cheirar.
Nem eu.