terça-feira, 13 de setembro de 2011

Panquecas.

Era uma boa padaria, ali estava o lugar em que comera minha melhor panqueca desde os dias em que comi a minha primeira panqueca. Voltava lá a cada 15 dias pra saborear o que chamavam de manjar salgado dos deuses incólumes (não digo sexualmente, porque todos se comiam) das antigas civilizações cicládica.
Fui ao balcão, sentei-me, o Ramon que sempre me atendia, não estava lá, eu olhava pros lados pra procurá-lo e o filho da puta não estava lá! Devia estar num daqueles dias de ressaca e dera o cano no serviço. Atendera-me uma mulher bonita, tinha seus olhos negros e um cabelo tão negro quanto, escorrido pelo corpo, como se estivesse a se aproveitar daquele corpo todo.
Perguntei-a onde estava Ramon, ela disse que havia sido morto dias antes, há uns cinco, com um tiro no meio da testa. Assustei-me, Ramon era um bom homem, sempre me servia um conhaque antes da panqueca pra apurar melhor o apetite do grande e magistral prato que preparava com inexplicável dedicação. Ok - disse. Você pode me servir então uma panqueca, com bastante molho. E um copo de conhaque, por favor. Ela sequer sorriu me parecia uma mulher dura. Precisava talvez de um bom pau ou um bom amor, mas não tinha nenhum dos dois pra servi-la. A panqueca chegou; o conhaque já havia descido, já não queimava mais ou provocava gosto algum. Se com o conhaque havia sido daquela forma, imaginei a panqueca, mas arrisquei. É, era como eu imaginava, não era mais a panqueca do Ramon e agora, havia aquela moça linda ali, a fitar minhas garfadas, com tamanha pretensão, como que se tivesse nojo do ímpeto de minha boca a devorar insanamente aquela panqueca sem gosto e sem vida, o gosto da panqueca - o que podemos chamar de alma - havia morrido junto com o Ramon, ficara somente a massa - que podemos chamar de corpo, que, indolente, não sanava nada alem da fome física.
E eu estava perdido, porque ali, diante dos meus olhos, estava uma prova de Rubem Alves a dizer: É na morte que mora a saudade. - E enfim, eu estava saudoso da panqueca de Ramon que sua morte a alma levara. Levantei, paguei a conta, pedi duas garrafas de conhaque e aquela noite, fora a primeira, de outras tantas que bebi por dor da morte. O conhaque, as panquecas, as mulheres, a morte me levara vários gostos. Alguns que jamais voltaram. A morte já não me preocupava mais, o que me preocupava, era onde agora, me instalaria à procura de algum gosto pra sanar a necessidade de minha alma. Meu gosto também estava sumindo e as pessoas já não se importavam, procuravam outros. Aquela moça não me fitou a fim de sexo ou à procura de amor. Um brinde agora, a mim tambem.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

à sua morte, Léo!

E então você se foi, cara.
Você morreu.
Você era um homem duro.
Mas morreu homem.
Você era frágil, às vezes.
Isso te infantilizava.
Agora há uma criança aqui,
Que chora ensandecida.
Como se quisesse questionar algo,
E se você estivesse aqui,
Me perguntaria o por quê
Dela chorar assim.
E afloraria seu lado criança.
E eu não saberia responder,
Porque só vocês dois têm
A velha afinidade das crianças,
De querer saber o choro do outro,
Inocentemente a fim de curar a dor.
Mas você não está.
A criança continua a chorar.
E eu espero que você tenha ido,
Não por acreditar em um lugar melhor,
Não, você não era tão criança assim.
E se foi por isso,
Eu juro, que nunca mais,
Pago aquela pinga com mel
Quando te vir novamente.
E aquele velho abraço,
Com um beijo no rosto.
Fará falta.
Assim como sua dureza.
Que impunha na gente
Um pouco de vivacidade.