terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Alta Voltagem

Não me ames, pois não presto,
sou o resto de tudo o que abominas.
Sou sem causa a prostituta, a louca,
aquela que não quer amar para não morrer.
Não olhes em meus olhos, eles mentem
a doçura que não tenho,
escondem a futilidade que amo.
Não me venhas com lágrimas
ou juras de uma vida cor de rosa
prefiro morder a carne a jurar-te
amor que não podes cuidar.
Se tens ainda amor-próprio esqueças.
Partas para as meninas de olhares miúdos,
donzelas fingidas são mais santas que eu.
Sem olhar para trás sigo pelo meu calvário
e tua lembrança não cabe na fumaça
dos meus relicários pernas&camas.
Te dei do corpo a alma e consumistes
de maneira errada o que era para ser ternura.
Arrume a mala, caía fora que a hora corre
e de todas as mentiras pesque as verdades.
Procuro alguém, outro alguém para amar.
Será?

Eliane Alcântara.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

mande lembraças a Deus.

Adiantava dizer a ela que eu não aguentava nem fumar os velhos cigarros de quem eu tanto gostara a vida inteira? E que ela não bastava mais, e que viver por ela já não rendia mais frutos, que meus sonhos, minhas realizações, que meus tempos dentro dela já não tinham mais valia?
Ter uma vida vivida num cofre, tentar adivinhar o que a vida tinha de melhor sentido, já não era mais pra mim, que tem gente que confunde luxo com luxuria, sempre fui luxurioso, porém nunca luxuoso. Meu estado era deprimente.
Já não comia muitas mulheres, aliás, não comia nenhuma, não tinha amor, tinha dois pulmões que me martirizavam, tinha um amor lá nas Minas Gerais de José que não existem mais, meus livros haviam vencido, a língua que eu falava mudara de sentido, haviam regras que não permaneciam mais, eu queria ler Bukowski, mas Bukowski não tinha mais. Queria uma casa, mas não tinha paredes, nem teto, nem rede. Queria um amor, mas não existia coração, até que não quis mais nada. Só um ou dois cigarros pra eu não passar a noite sem companhia.
Nunca tinha conhecido alguem mais doente que eu, mais debilitado, havia algum momento na vida em que eu tentava levantar, mas era só pra sentar na latrina outra vez e cagar tudo que tinha vivido, eu queria morrer, mas morrer não vingava – era de propósito que Deus me ressuscitava toda vez que eu morria.
Daí descobri que não adiantava dizer a vida que eu não aguentava mais vivê-la, não vou dizer mais. Prometo!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Não sou bom em poemas! [232588471]

Lembraria dela durante o dia e diria: Você é linda.
Aquilo me surpreenderia porque não era pra todas, mas pra uma.




Como uma caixa d'água estava com
a bóia quebrada e em mim transbordava o que viria
dela.

Mas era uma discípula de Anaïs
Nin e me punha a teus pés.
Seus óculos me excitava, mas
sua boca, sua boca era tudo
que fazia minha idéia de - Não
me rendo à beleza- cair por terra.

Era uma mulher, tinha nome,
pouca idade, muitos sintomas,
me conquistava mesmo quieta
e a cada vez que abria a boca era
pra excitar meu coração pela primeira ou milésima vez.





Mas estava lá. - Sem o Téo.



Téo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

woman in a box.

Começamos com ela me corrigindo so“m”brancelhas.
Ela estava muito oculta, não sabia de onde vinha. De repente apareceu n’uma caixa de vidro, nossa, era linda. Não era pálida, mas era branca, não era chata, mas era menina, não era mulher, mas tinha corpo de uma, foi aí que usei a palavra certa pela primeira vez:
- Você tem uma sobrancelha linda.
N’ela continha olhos que sorriam, havia um nariz bem desenhado, parecia feito por um compasso, sorriso lindo e a cada expressão lançava um diferente do primeiro. Ela me excitava, cara. Eu tinha nela o contexto que fora falso pra tantas outras mulheres anteriores que eu pude tocar, mas ela estava ali, na caixa de vidro.
Começou a me seduzir; era tremendamente gostosa, tinha uma bunda redonda, seios pequenos, mas duros, não, diria – medianos. E minhas mãos ansiavam a botá-las na palma, mas encostava no vidro, nada sentira, nada sentiria, nada senti. Queria dar-lhe o céu – eu estava apaixonado – ainda que eu ache que pra ela serviria se lhe desse só as estrelas ou meu pau pra lhe satisfazer. Ela estava tão excitada, ela tirou a roupa dentro do vidro, ficou nua, me mostrou a boceta, enfiou um dedo na boceta, ficou de quatro encostada no vidro – me masturbei pra ela.
Tinha vontade de abraçá-la e a cada vez que sorria tomava mais um canto do centro de mim e sentia-me centrado nela. Queria deixar de ler Bukowski aonde eu estava, queria somente ler Manuel Bandeira e dizer a ela: E te amo como se ama um passarinho morto.
Ela conseguia me ouvir por um fone, um microfone sei lá, eu não sabia a qual andava minha consciência, quais eram meus cinco sentidos, estava me sentindo como que um peixe de dois metros, num aquário de um. Eu gritava, ela me ouvia e acenava com a mão pra eu falar mais baixo então eu disse: Você é tão gostosa – Era o máximo que eu conseguia em se tratando de romantismo.
Imaginava-me junto a ela, ali, na caixa de vidro, que parecia ser mais extensa do que o que me parecia, conseguia ver sofás, quadros, cores, a via tão deliberadamente sem pudor, que era a vida que eu tinha sonhado pra mim, mas acho que não ela à ela.
Logo tirou um telefone de não sei aonde. Uai, ela estava nua e de onde viera? Não consegui ver de onde porque houvera virado a cabeça pra tentar me esquivar de mais paixões.
Tocou o meu telefone e alguem me perguntou:
- Quem é você? – com uma voz extremamente sulista e sexy.
- Sou o Téo.
Ela desligou o telefone e nunca mais vi a caixa de vidro, nunca mais vi a guria dentro da caixa, nem fora, nem eu.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Cheers.

Descia degrau por degrau com os olhos marejados, estava triste, desesperado, o coração estava a ponto de explodir. Seu corpo tremia, suas mãos suavam – estava cada vez mais distante do que poderia ser naturalidade. Sentia falta de algo que não sabia, buscava esconder-se em algo que não deveria, tentava-se achar em cada lance de escada, jogado no canto, no reboco da parede, no corrimão enferrujado, nos bocais queimados no teto, no forro cheio de cupim, nos brindes sem gosto de vida, na vida com gosto de morte; onde ninguem houvera procurado.
Foi ao bar, tomou cervejas, viu mulheres, escreveu um ou dois poemas num guardanapo, depois amassou-os e tocou fogo com o isqueiro que acabara de acender um cigarro, estava embebedando-se. Arrumou uma companhia, voltou ao quarto – agora subindo os degraus desesperadamente – levantou a saia da moça, comeu até senti-la escorrendo no pau dele e depois pediu pra que ela fosse embora; ela hesitou, mas foi.
Já não entendia o modo como vivia, ia de um lado pro outro sem contar os passos, eram tão compridos e confusos. Amava toda mulher que ficava, mas só na hora do sexo, queria viver tão paradoxalmente que criava algo que não era possível pra ele e bem que sabia. Estava tão entregue a esperança de amar alguem que viesse da lua, estava tão idiota a procura de um romantismo barato, já não fazia boas coisas. E os dias continuavam.
Descia degrau por degrau com os olhos marejados, estava triste, desesperado, o coração estava a ponto de explodir. Seu corpo tremia, suas mãos suavam – estava cada vez mais distante do que poderia ser naturalidade. Sentia falta de algo que não sabia, buscava esconder-se em algo que não deveria, tentava-se achar em cada lance de escada, jogado no canto, no reboco da parede, no corrimão enferrujado, nos bocais queimados no teto, no forro cheio de cupim, nos brindes sem gosto de vida, na vida com gosto de morte; onde ninguem houvera procurado.