E já não mais acreditava em coincidência, era um homem com dores, bêbado, mas com dores.
Sentara ao meu lado, dissera coisas incríveis sobre como os urubus degustam suas carniças e os comparava às mulheres. Logo, de pronto, não hesitei em concordar.
Tirou dois cigarros do bolso, jogou um à minha frente, no balcão, e disse: fume um desses você
verá que gosto bom estes têm! Peguei meu isqueiro, acendi, traguei e tossi mais
que havia tossido com qualquer cigarro na minha vida, então apaguei no meu
conhaque e virei o copo. O velho sorriu da minha cara e me disse que era assim
mesmo, que na vida, a gente só pode experimentar o que estamos dispostos a
aguentar. Levantei-me, fui ao banheiro e quando voltei, ele não estava mais.
Perguntei ao dono do bar se o velho havia saído, ele não me respondeu, estava ocupado
recebendo um boquete de uma vagabunda que não tinha dinheiro pra pagar a conta.
Deixei o dinheiro no balcão e fui embora.
Chegando em casa, estava frio, eu não me lembrava de muita coisa do dia anterior, mas tinha
roupas no chão, alguma mulher veio e fora embora pelada... provavelmente.
Porque havia uma vestimenta completa ali, calcinha, calça, sutiã, blusinha com
uma foto de Marylin Monroe. Aos poucos fui recobrando a figura da mulher, não
lembrava-me do nome, estava fadado ao fracasso e subitamente a porta do
banheiro se abre, era linda, loura, olhos claros e um par de peitos
maravilhosos. Não era exatamente a que eu havia me lembrado, mas era mais
surpreendente.
- Oi, Téo. Como foi no bar?
- Foi tudo bem.
E eu a olhava,
dissecando, tudo, corpo, olhos, alma...
- Você não se lembra de nada de ontem, né?
- É, não me lembro de nada. – Enquanto eu colocava meu disco do Jeff Buckley pra rolar.
- Eu te lembro então. Você foi à zona, eu trabalho lá, então você me pediu pra vir morar
contigo, que me tiraria daquela vida. Mas você estava tão bêbado, que eu não
vim pra sua casa por escolha, eu gostei muito de você, eu vim te trazer, dormi
um pouco contigo, você insistia em trepar comigo, mas você estava tão bêbado
que não aguentou nada. Mas não se preocupe, só estava tomando um banho, está
aqui a chave de seu carro, vou embora, jajá começa meu expediente de novo e se
você quiser ir até lá, sem estar bêbado e me fizer o mesmo convite, eu aceito.
- Tudo bem, bom trabalho.
Dormi um pouco, não me lembrava como havia amanhecido, nem como havia deixado-a em casa e ido pro bar. Ao passo que dormia, meu corpo suava, dormi muito pouco, acordei muito
cansado, peguei minha garrafa de vodca e tomei inteira. Eu pensava naquela
mulher, eu pensava em outra também, mas agora não mais com tanto amor, esta
outra, inocente mulher, havia me feito apagar um pouco aquela que houvera me
deixado. O amor tem destas coisas, você sofre dias, você vai à bares, igrejas,
casas de amigos pra tentar dissuadi-lo e quando menos espera, numa zona, você
encontra paz. Tomei um banho, estava bêbado, não conseguia dirigir, mas sabia
exatamente o que queria... Fui à zona, perguntei sobre ela, não lembrava seu
nome, vi todas as mulheres da casa, nenhuma era ela. Ninguem a conhecia – você pode
virar amante de muitas mulheres, mas só uma é realmente sua amante – e meus
olhos brilhavam de tristeza, fundos e atormentados, batia na porta dos quartos,
atazanava todo mundo, um segurança preto bateu na minha cara e dizia: acorda,
Filho da puta. Quem se apaixona por puta é corno.
Fui pro bar, não a havia encontrado, bebi muito, muito mais que havia bebido na noite que a
havia encontrado e quando acordei, havia uma mulher ao meu lado, que não sabia
seu nome, nem sua idade, nem seus dotes, minha cabeça explodia e aí então, eu a
pedi em casamento e ela não aceitou. Foi-se embora e nunca mais a vi. E era
assim, desde o começo, as pessoas passavam pela minha vida só por momentos e na
maioria das vezes eu não lembrava exatamente quem eram, nem seus nomes e muito
menos como as havia conhecido. Decidi então parar de conhece-las e bebia no
escuro do quarto, como um corpo podre à espera da puta, da santa ou do velho
barbado e conselheiro.
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