Há um tempo em que tudo não passa de desistência e desamor.
Você é pego pelo pé ou pelas mãos ou pelos pêlos do seu genital e isso te
arrasta ou te machuca ou te corrompe. E você continua porque a ideia é chegar
até o fim. No meio do caminho você encontra algumas garrafas, como se tivesse
em um cômodo que fizera festa durante toda a semana e agora é domingo e agora é
frio e agora está nublado e agora você precisa limpar a casa; com garrafas
pelos cantos, pelo centro, em cima das suas coisas, da sua cama, da sua
estante, todas vazias. E há algumas mulheres deitadas nuas e alguns de seus
amigos ainda bêbados e cheirando a sexo e você não se reconhece ali, você
sempre foi aquilo, mas você não se reconhece ali.
E você limpa sua casa, tira as garrafas vazias do canto, do
centro, da estante, comunica o fim da festa, mulheres nuas se levantam - podres
- e seus amigos, ainda mais podres já esperam a próxima. Mas você sabe que
alguma coisa aconteceu e você não estará na próxima. E sua casa não terá outra
festa deste nível.
Alguem te liga e te oferece companhia. Você nega.
Alguem te liga e sugere uma bebida. Você nega.
E agora há um rádio ligado, Tom Jobim canta algo que sempre
te surpreendeu. E você pega seu telefone, liga pra alguem e diz: sinto sua
falta, sou apaixonado por você. E
ela tem medo, você tem medo. Cada é um responsável pelo seu
passado, pelos suas dores e não há quem vá chegar e tratar de cura-lo sem
distinção. Há de ser julgado e você torce pela absolvição.
Ela é uma linda mulher e seus cabelos curtos não chegam aos
pés da grandeza de seus olhos. E você se lembra de Bukowski dizendo: um par de
olhos capaz de nocautear o sol. E você continua, ela esta lá. "você quer
vir em casa?" e ela vem, e a sua casa está limpa, há uma garrafa na
estante, um Cabernet - tão romântico que seus amigos negaram - digno de um
compartilhamento, mas agora sem mulheres nuas e amigos podres. Ela chega, o
chão reflete seu brilho, suas mãos tremem e sorri com o canto dos lábios. E
agora, depois da casa limpa, pode andar descalço e afagar seus cabelos suaves;
não há mais desamor ou desistência. Ela vai precisar de uma cópia destas
chaves.
2 comentários:
É como dizem... "há um pássaro azul no meu coração que quer sair, mas eu despejo whisky para cima dele e inalo fumo de cigarros, e as putas e os empregados de bar e os funcionários da mercearia nunca saberão que ele se encontra lá dentro".
mas eu não choro, e vc?
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