Meu pai dizia que antigamente, no forró, roçar uma mulher era coisa pra cabra-da-peste, que era preciso gana e um pouco de ritmo. E eu me lembro ainda menino, meus amigos mais velhos, assobiando para uma mulher daquelas que passasse na calçada. Com os cabelos escorridos, saia ou calça que faziam com que sua bunda se agigantasse e os homens inspiravam o ar e soltavam um saudoso: fiu-fiu. Não sei se na inocência, mas crime não era. E a mulher sorria, com o canto da boca e passava o dia feliz com os elogios daqueles marmanjos pobres e cervejeiros da minha vila.
Com o passar dos anos, fui aprendendo a elogiar as guapas que passavam à minha frente e com muito esmero, mandava um 'fiu-fiu' pra uma prenda que passasse por ali. E sem falta de respeito e sem o crime, e sem o assédio.
E uma vez uma delas me disse: obrigado, meu rapaz. Mas você é muito novo pra saber o que é uma mulher gostosa ou não.
Eu não ligava, pra mim, no auge da adolescência, mulher gostosa era aquela que não acabrunhava minha mão, que me deixava, em meus pensamentos sólidos, à revelia da minha paixão.
Aprendi a lidar com algumas delas, e uma vez, um tapa no rosto, despertara minha primeira paixão. Os homens malandros, os pedreiros bêbados, os homens do bar mercenários, todos, eram os mesmos quando passava uma mulher vestida como uma deusa. Era ali, uma forma de adoração, o melhor do respeito que os homens podiam doar, o melhor do elogio que elas podiam receber.
Agora leio, que a cantada é assédio, que as mulheres não são objetos - e quem um dia achou que eram? - com certeza um homem que acha isso de uma mulher, jamais a achou gostosa pela bunda, pelos lábios, pelos cabelos ou pelos olhos e quem sabe, por um 'eu te amo' pós-coito.
Fato que as ameaças constitucionais, são tão chatas, tão ridículas e tão feias, que se fosse uma mulher, não receberia um 'fiu-fiu' ou 'gostosa' de homem algum na face da terra. Só de um politico ou outro, talvez!
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