segunda-feira, 28 de junho de 2010

mata-mata

Havia amanhecido, após um final de semana doloroso, não se via uma pessoa nas esquinas, só nos bares. E estar no bar não era uma boa sensação, muita gente me deixa estranho, mal-humorado, você pode passar a vida dentro de um bar, desde que todos os outros estejam do lado de fora. A não ser uma ou duas mulheres bonitas pra não perder totalmente o encanto pela vida. Os amigos já não estavam mais por perto, acho que nunca estiveram. A mulher perfeita deixara de existir, o âmago relutava em existir e as manchetes traziam sangue, as colunas política e o caderno de esportes um mata-mata descomunal.
Fui ao supermercado, comprei um litro de conhaque, voltara, havia brigado com deus e o mundo, aos olhos de deus o inferno não existe, mas ao olho do diabo o próximo morador do inferno já estava se preparando. Havia perdido o medo da morte. Não tinha influência sobre ninguém, os horóscopos eram as consultas prediletas das mulheres, uma de peixes outra de Áries, mas nenhuma ali, na prontidão de ser descrente feito eu. Eram todos felizes, nos bares riam, o que era em demasia fazia minha revelação vir à tona, tudo, tudo era de mentira, exceto a minha verdade. O amor era um pedaço do corpo, do meio pra baixo, como diria o Gabo. A sensação esperançosa havia ruído. Sexo era pecado e amor agora tomava conta. Todos diziam que um bom sexo se fazia com amor. Não deu tempo.
Agora meu nome era “Ridículo” e eu estava no meu canto, no meu quarto, com as janelas fechadas às 14h31min o cheiro forte aninhava meus cabelos e ninava meu sono. Agora era isso; o conhaque, o cheiro e a falta de esperança. Desamor por todos os lados esperando o mata-mata.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Relógio

Não era tempo disso, não era tempo daquilo. Não era tempo. Lia na Bíblia que há tempo pra tudo. Mas não, ali não havia tempo. Meu relógio estava parado, meu copo na metade como quando o tempo parou. Não sabia que horas o tempo havia parado. Tinha na parede um relógio com o mesmo tempo que o meu relógio mostrava. Mas não ia alem, nem aquém, todavia estava lá, pra mostrar que estava parado. Uma senhora ao meu lado se definhava, tinha belas pernas que pra elas o tempo não passava, mas sempre que descia os olhos e subia à face novamente o tempo passava no rosto, olhava o relógio e não, não saía do lugar. Os ponteiros cretinos esperando a correção do relojoeiro, um faquir ao lado, esperando o tempo passar pra que mais um quilo fosse pro limbo. O tempo não me era amigo, eu não tinha amizade com quem me acabasse com o decorrer dos dias, é loucura ser aliado do que lhe envelhece, não havia o que se pensar, nem a maturidade se alcançava, não havia nada pra absorver, minhas pernas não se mexiam, meus olhos sim, olhavam tudo o que pudesse ser visto naqueles noventa graus oculares e eu desesperado pra tomar meu conhaque, o tempo não passava, eu não estava bêbado quando o tempo parou, era meu primeiro copo, não sabia como iria lidar com isso, o tempo parado, sem movimento e eu são. Mas a vida passava, aquela mulher se acabava, rugas por toda a face, os lábios caíam aos poucos, os peitos, as pernas continuavam impecáveis. O que era afinal? Um velho passou por mim, como ele conseguia andar? Como ele conseguia estar com aquele copo na mão? Uma cerveja, duas, três e conhaque à revelia. Eu só queria mais um gole. Mais uma punheta. Mais uma trepada com aquela tia das pernas lindas e do rosto feio. Qualquer coisa que fizesse me sentir envelhecendo mais com prazer. Mas não, estávamos ali, o rosto dela começou a pingar, escorria pelo chão e eu assustado com aquilo, quem era aquele velho sacana? Só ele aproveitara até o fim. Eu me senti pingando, minhas pernas foram se esvaindo, a pele branca e os pentelhos ruivos percorrendo o chão e eu não via mais os relógios.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

ópera

Vamos à ópera.
Não gosto de ópera.
ó-p-e-r-a, Téo.
Não vou à ópera.
Vai sim.
Fui à ópera.
Péssima ópera.
Ela bocejava.
Eu odiava.
Levantei.
Fui pra casa.
O diabo ria.
Ha-ha-ha.
Filha-da-puta.
Havia samba,
na esquina.
Mulatas,
suadas,
exalando sexo.
e o diabo ria.
"é isso que merece,
um belo filho-da-puta,
acabar na punheta,
depois de uma ópera."

todoescritor

Sentado, um frio enorme, tomava um conhaque pra esperar a quentura prevalecer. Havia um velho por ali, que escrevia bem demais, eu era seu fã, escrevia crônicas feito ninguém, me apresentou Bukowski, Hemingway, Kerouac, Caio F., Ana Cristina César, Reinaldo Moraes, quer mais? Tem muitos.
- Bom dia, Téo.
Balancei a cabeça, como um sinal positivo, esperando que aquilo servisse pra apartar o assunto, mas aquele dia o velho tava insistente.
- Te observei Téo. Duas horas com esse copo na mão, porque não bebe logo?
- Porque o problema é meu, vai à merda, velho.
- Vamos em casa, Téo, lá tem uísque, vamos tomar e tenho mais algumas coisas pra te apresentar.
Levantei, esperei pelo velho, pagou a conta, fomos pra casa dele, chovia, o asfalto estava molhado demais, escorregadio feito sabão ou eu não agüentava mais que um copo de conhaque. Tomamos chuva, não falávamos nada no caminho, ele subiu as escadas bem mais rápido que eu, disse que um velho de 73 anos não poderia ser mais forte que um rapaz de 26. Eu mandei-o tomar no cu. Ele me perguntou se eu me lembrava do trecho de velho safado quando Bukowski fala que no fundo todo mundo é viado, que todo mundo deveria se assumir, pra ser melhor. E eu dei um murro na orelha do velho, mas ele era forte pra caralho, me segurou pelo pescoço, jogou no chão, quebrou um pedaço de madeira na minha cabeça e desmaiei. Acordei e meu zíper estava aberto, meu pau molhado, aquele velho fodido, disse que eu não prestava nem pra ficar de pau duro enquanto desmaiado, se roçava em algo, ele tinha uma cenoura na mão e enfiava no próprio rabo, aquilo me deixava com asco, mas eu não podia fazer nada. E me dizia que no fundo, todo escritor é assim que se acaba, todo escritor é sempre enrabado por trás, ou pela morte, ou pela loucura ou por uma cenoura.

terça-feira, 15 de junho de 2010

aespera

Era comum, já havia vivido bastante, conversava com sua ultima mulher como se a moça fosse uma criança. Dizia: já fiz de tudo nessa vida, amiga. As drogas, o sexo, o rock’n’roll, a literatura, as noites em claro com um Celine aberto ao alcance das mãos e mais próximo a mente que o coração. Você não sabe muita coisa, moça. É necessário andar com os dois pés, um passo nunca pode ultrapassar a velocidade da alma, você precisa observar, vivi tanto tempo sem observar as coisas, as cores das casas, as mulheres à espera na janela, os rapazes sambando a noite toda em busca de um rabo-de-saia, vezenquando é necessário paz, deixar o seu corpo descansar, depois de uma noite embebedando-se é necessário se ter a ressaca, pra se ter idéia de que tudo que é divertido tem custo.
Você precisa saber distinguir o vinho a oferecer pro seu companheiro, meu bem. O melhor vinho não é o mais vermelho, o mais doce, o mais branco. O melhor vinho é o que te mata menos no dia próximo, aprenda a controlar o sexo, seu corpo precisa de realização tanto quanto sua mente, menina. Não queira ir direto ao ponto, dê mais tesão ao seu cérebro, não dê sempre no primeiro encontro, almeja ser feliz, um mato, duas paineiras, sim, duas pra estender a rede. Laranjas, cigarro de palha e um bom rio pra se banhar. Esperar a vinda de deus ou do diabo é angustiante, você nunca sabe como se vestir.

queda

Até que haja um raio que me parta, ela dizia, estarei contigo pra não esquecer da pacificação do mundo que nos prometemos. Ela dizia que sim, era assim que tinha que ser, ele era absurdamente cretino, ela absurdamente romântica, no começo, depois se moldou a ele e trepavam no andaime construído pra se reformar a igreja que era vizinha.
Pra se viver trepado e trepando no andaime é preciso equilíbrio, é preciso que tire do seu lado esquerdo o que te faz pesar mais que o lado direito, ou ficarás penso e ruirás. O chão não é tão perto quanto se parece, você precisa de um pouco de gordura extra- corporal, alguma proteção divina e uns dois ou três copos de conhaque pra agüentar a queda. E não basta que sejas feliz, felizes também se fodem, dizem que a felicidade é passageira e o que segue a linha da vida é mesmo a tristeza, então se acostume com a melancolia repentina que lhe bate quando ouves alguma música nostálgica ou um perfume de puta que fica na tua mente e te remete àquela vadia que comestes anos atrás.
E vocês, mulheres, se acostumem com o que fica, o cheiro de cigarro de creme que seu homem fumava, o mesmo cigarro que serviu de desculpa pra ele ir à padaria e sumir da sua vida. Aquele cd que vocês botavam no sony de vocês, que ele puxava sua mão, levantava-te e dançavam aéreos feitos dois bobos da corte. O amor não é exatamente o que vocês esperam, se o amor tem algo de bom é ao final, que nos mostra que não era sonho, porque dá uma beliscada, veja, uma bela beliscada. E se o perdeu, não adianta fingir que a vida lhe ajudará com o tempo, o tempo não ajuda em nada, nem um novo amor que o fará chorar após dois anos ou alguns meses. Vá ao bar, beba cerveja, ache um homem e trepe, dê pra ele até o dia raiar, assim esquecerás a merda do sexo mal feito que seu homem te dava já ao fim do relacionamento e verás que tudo se renova em se tratando de sexo e sempre pra melhor.
Por fim ela dizia que primeiro veio receio, depois veio o carinho, no momento havia vontade de cuidar ou de estar junto o tempo que fosse, afinal o saldo era positivo. Ele dizia que o saldo é irrisório, era curiosidade, visto que o enterro seria pago pela prefeitura.

sábado, 12 de junho de 2010

Motel

E daí que os homens constroem pontes se você não tem pretensão de atravessá-las? É que nem sempre tens muita aspiração pras coisas. Você tem duas coisas que mais ama na vida, mas falta saber o quê!
E se há desejos ponha-os à mesa, assume-os. E daí que rola um “saí da sua vida” de Reginaldo Rossi no seu som? É teu lado brega aflorando a futura trepada que planejas.
Ou você é muito homem ou continua sua vida nessa idéia de não conquistar quem te dê respeito. Você não precisa de respeito, precisa só de sexo, sexo move o mundo. É por causa do sexo que amplias teus horizontes, o amor não te dá experiências, o sexo sim.
Dia dos namorados, planejei fazer um motel na minha casa, pra ganhar algum dinheiro, contei sobre a idéia pra uma amiga, ela disse que seria uma boa, pra eu convida-la que ela não conhecia motéis. Eu disse que assim faria, se ela pagasse. Ela pagou por mim e pelo quarto, não sou o melhor puto do mundo, mas consegui dar uma boa trepada com a vagabunda. Foi embora e agora já quer mais.
Não sei saber de muita coisa, meu conhecimento é muito pouco, seja em qualquer área. Há muito frio aqui, há uma quermesse na igreja da esquina, há uma querença no peito que ninguém dá jeito. Há uma pitada de sal no arroz. Um desejo alucinado pela cura. Ainda é dia dos namorados, ainda há essa merda toda de comprar o presente a prazo.
Amantes mentirosos, há tanta gente espalhada por aí mais amorável que os seus. Tá, eu sei, eu não!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Morena

Morena,
Um pedaço do mar, do infinito.
Há dois amores no peito.
Há um gosto por cerveja,
Há um tesão por sexo.
Há duas coisas iguais
Há um contexto igual.
Mas há uma novidade.
Sorriso branco, olhos brancos,
Pele lisa, corpo magro, mas envolto.
Há curvas que são perigosas,
Há uma delicia nas palavras.
Seu sabor vai à ponta da língua.
Seu desejo é um regresso,
Sua presença é um pecado.
Não há o que se fazer.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

barbitúricos

Ela tem barbitúricos,
Diz que é necessário.
Na agitação da alma,
Não há nada resolva.
Eu ofereci um pedaço de pica,
Ela achou engraçado.
Mandei à merda,
Drogada do caralho.
Ela disse o mesmo de mim.
Somo tão parecidos,
Enquanto ela chegou à merda.
Eu voltava.
- olha, não é bom.
Ela não gosta de me ouvir mesmo.
Dá um pouco do seu calmante, vadia.
Ela quis dar outra coisa.
Eu aceitei, não teve muita valia.
Lingerie toda fodida,
Boceta toda fedida.
Era assim que tinha que ser,
Fui pra casa,
Ainda sinto saudade dos barbitúricos,
E toda noite faço uma oração
Pra Adolf Von Baeyer!

covardeteo

Agora eu era herói, mas não tinha cavalo. Um Dom Quixote sem Rocinante é a pior espécie que se pode contratar. Ela queria que eu fosse seu herói, que lutasse por ela, mas não se chamava Dulcinéia, muito menos era de Toboso. Queria mesmo que estivesse perto, não havia moinhos-de-vento, mas havia eu. Não era suficiente.
Dormindo de dia, acordado pela noite, acordado na verdade quase o dia todo, tinha insônia. Tinha um amigo viciado em morder a orelha, pára com isso, vai. Ou se era azul ou se era preto. Normalmente era preto, tudo preto, mesmo de olhos abertos.
Ouve a idéia do Neil Young: Get off of that couch, turn off that MTV!
Caralho, Neil Young, eu nem assisto tevê, na minha casa nem tem sofá. Não tenho nem espada, nem cavalo, não tenho armadura, meus moinhos são de mentira, você tem uma guitarra, eu tenho contra-baixo, você tem dinheiro, eu tenho a alma, sorte que você chegou mais rápido ao diabo. Ele já não tem quisto novas almas.
Não, agora eu não era mais herói. Precisa de muita coisa, principalmente coragem e como diria minha Cass: você é covarde, Téo.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Entende

Um pouco
No copo
No corpo
Um sonho
Desejo
Frígido
Repouso.
Agora
O que está
É fora.
O que há
é dentro,
entende?
Amanhã
Verde
Cervejas
E copos descartáveis.
Estamos
Vivendo
O ócio do amor.
E no
Entanto
O que sobra
É resto.
O amor
Também
Oferece
Restos.
Como
Nós
Depois de mortos.
Entende?

oquemaisagora

De manhã o frio, tem sol, mas é frio. Duas cobertas, blusa de moletom, calça de moletom, meias e nada aquece. Nada aquece. Não há mulher, não há conhaque, não há vontade. O que dita o ritmo é ser preterido. Se você é preterido por quem mais gosta, faz frio, você ser preterido por você é o ápice da idiotice. Mas não se arruma jeito de escapar, se não há paz, não há calor, dá-se a impressão de que falta somente ter idéia do que há de se escrever na lápide. Quem irá cavar tua cova, quem jogará a flor por ultimo no seu caixão, se alguém estará lá pra fazer isso. Se sua vida continua ou para por ali. Eu precisava de cigarros, drogas, cachaças, cervejas, mulheres, mas não, nada disso faz sentido, nada disso tira de dentro do âmago o vazio que não se camufla. É necessário deixar duas ou três larvas vivas pra que virem borboletas, não? Não! Três borboletas não mudarão nada sua vida, nem a minha, não mudará o efeito. Se a sinopse da sua vida é o que passa na tua mente quando fecha os olhos é que tua vida é muito pouca. E ser pouco é o espírito do ser humano moderno. Era muito melhor quando a vida se resumia em música, mulheres, cervejas e cigarros. Mas não tens mais efeito diante das mulheres, seus ouvidos entupidos, seu fígado infeccionado impede a cerveja e seus pulmões pretos dispensam cigarros. Olhas pro céu, o sol. E cospes pro alto. O que mais agora?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Donamorteeocaralho

Pra se ler ouvindo: Everybody’s gotta learn sometimes - beck

Estava no bar, balcão molhado, ruiva ao lado, cerveja até o talo no copo, conhaque dessa vez não, isqueiro branco em cima do balcão, pensando na mudança do clima, a ruiva era uma delicia, tinha olhos verdes, um corpo delicioso, seios redondos o suficiente pra caberem nas mãos. Eu tinha um desejo enorme de fumar, uma placa na minha frente dizia que ali não, ali não podia, eu não costumava respeitar esse tipo de coisa, acendi um cigarro, a fumaça subia lentamente escrevendo um nome no ar que eu não conseguia identificar, havia alguns homens no bar, de mulher só a minha ruiva que nada falava, alguém talvez pensasse que fosse acompanhante, talvez fosse, não me lembro muito bem de onde surgira. Eu lia um texto que não havia parágrafos, lia pulp de buk, pensava no time que não ganhava há quatro jogos, queria encher a cara, mas eu não tinha dinheiro. Queria armar uma pindureta como diria o velho Mussum. Eu amava estar diante de tanta pinga, lembrava-me da minha infância rude e hostil, de brigas por causa de pipas, mulheres e time. Era todo verde, era todo comum, ninguém me olhava mais com cara de desejo, só desdém, era por isso que a ruiva deveria ser acompanhante. O garçom falou que não podia fumar ali, eu mandei um foda-se, ele me deu um murro no canto da boca, dei outro logo em seguida, tirou uma arma, atirou em mim, conheci Dona Morte, a ruiva saiu correndo, os caras do bar só me olhavam deitado no chão com a boca cheia de sangue, fechei os olhos, fiquei um tempo desacordado, abri os olhos, lembrei de Chicó de Suassuna, Nossa Senhora e Jesus Cristo, não haviam marcas, não sei o que aconteceu no meio tempo, sei que não sei onde era o bar, nem quem era a ruiva, nem que arma era, nem se de fato acordei da morte ou do sono.