domingo, 22 de agosto de 2010

uísque barato, quarto fedido e o mesmo bêbado!

Ela me chamou de amor o tempo todo, era uma mulher muito bonita, tratava-me como a seus gatos, tinha um mais recentemente, entregara a alguém por aí. Você pode passar uma vida digladiando com os opostos, mas o extremo mesmo é de se variar. Uma idéia não é conjectura quando se trata de um bêbado, dizia ela. Eu agradecia com leves beijos e goles grandes do conhaque que sempre acompanhava.
Estava distante, não como sempre, agora mais. Não nos separavam os quilômetros, mas a presença. Havia se esquecido do homem que fui, havia me esquecido de não haver nada, mas era normal, um homem deseja e almeja muito quando impressionado. E isso pode partir de novos jogos, como o jogo da vida, dos sentimentos, do sexo, quando um pau encaixa bem numa boceta, tens a maior prova de que finalizou o jogo corretamente, mas entre estar bem posto ou não, não exige que o jogo permaneça intacto ou que ainda haverá novos truques a serem descobertos, o jogo pode simplesmente parar por ali, levantar-se, destruir a torre construída, ir ao bar e dizer: foda-se. Ir ao bar, e ter a companhia da melhor peça do jogo da vida: a bebida.
Havia ido a uma cidade distante, pra esquecer um pouco do viés da ilusão, dizer a ela que iria a trabalho, com uma companhia familiar, parentética, mas não, ir visitar outro país, beber uísque barato e pirata que havia comprado pela manhã, não sair pela cidade durante todo o dia, beber, encharcar-se, dormir no hotel como se fosse seu velho quarto fedendo ao seu corpo rude e vil, lembrar-se que ela poderia estar presente, mas não, a solidão é mais fugaz que a vida, seu uísque te provou isso.
Acordei bem, visitei as Cataratas, nada que me impressionasse muito, como o gosto do uísque, por exemplo, que parecia ser melhor que o original. Os cigarros fedidos e sem filtro, sem impostos, pelo valor de um pão que eu já não comia há muito tempo, voltei pro hotel, tomei mais uma garrafa de uísque, meio zonzo, levantei, fui à rodoviária, perdi o ônibus, embebedei mais um pouco, tomei tudo que a vida havia provido, o outro ônibus chegou, embarquei, bebi mais na viagem, a culpa do sentimento está diretamente relacionada à fragilidade e falta de capacidade de lidar com ele, pronto mensagem via inferno: lembrei de você, saudades. Acho que ainda se lembra quem sou. Talvez lembrasse. Fatídico e ocioso. Esquecer é fácil, mandar a dó pro escanteio que é mais complicado.