quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Curta.

Um rapaz britânico acorda pela manhã, escova os dentes, olha-se no espelho e anda pelo corredor do prédio, um longo corredor, meio obscuro.
Encontra a (Amada – namorada – esposa – amante – amiga) tudo até aí no mais puro silêncio, e começa a tocar fade out do Radiohead, e eles começam a discutir, exatamente quando um passa ao lado do outro, se olham, e ele inicia uma longa briga, para a musica << não foi justo tudo que você fez, a vida esteve por um passo da felicidade.>> Ele diz olhando em direção dela. << nunca nada é justo, justaposto, justamente, injusto, o amor preterido pelo ódio é forma de egoísmo, você foi tantas vezes egoísta, quando amou de verdade, não soube se controlar? O que é este teu sentimento agora? Você aí, passivo, sem planos a não ser fuga de si, si só é só!>> Ele ainda insisti em dizer olhando pra ela. E quando a câmera chega perto, vira como se estivesse olhando pelos olhos dele e vê um enorme espelho entre os dois – ele falava com ele mesmo.
Ela vai, e ele fica. Um Cúpido – pensei que pudesse ser um ET, já que os ingleses crêem de forma insana neles – retira do corpo do rapaz a flecha, com muito esforço, o rapaz briga com o cúpido << O que é? Saia de minha, alma que atenta minha sanidade, saia>>Diz o rapaz. << Tenho que levar a flecha, não cabe-te mais, não é mais sua de direito.>> Diz o cupido. <> Diz o rapaz. <> Diz o cupido.
Quando o cúpido retira a flecha, o rapaz cai em pedaços, todos espalhados pelo corredor, a esta hora um pouco mais iluminado, para que soem visão e o barulho dos cacos no chão... Volta a tocar a música, a alma do rapaz ainda inteira, fica pegando os cacos um-a-um de modo que as peças do corpo que ele pega têm chagas, e vai se montando novamente, a musica para de novo, ele fica se reconstituindo, chorando, e vão caindo as lágrimas nas peças do corpo, que vão se derretendo, escorrendo pelo corredor do prédio <> Diz o rapaz.
<> Diz a morte. Quando a ultima gota cai e a última peça é derretida a musica toca novamente, volta a namorada chorando copiosamente, pisa no liquido que ele virou, vai até o apartamento, pega um pano seca-o, com o pano encharcado vai até o ralo do prédio e torce o pano, ele escorre pelo ralo até misturar-se com a alma e o lodo que está abaixo do ralo...

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sempre morro, cabeça.
Sempre.
Mesmo nao devendo. Mesmo nao.

Como faço?