quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Cocaína VI!

Pensar na minha vida anterior me matava, eu tinha saudades de quando eu não tinha relação nenhuma com o vício apesar de não lembrar-me muito bem como eu era quando sóbrio. Eu não era mais um homem, não era mais um menino ou um jovem, eu já era velho. Tinha algumas dores que o vício me causava, dores no estômago, nos rins, meus pulmões já estavam condenados há tempos pelo médico, há pelo menos vinte anos eu já sofria de pneumonia eosinofílica crônica; era um caos, eu não sei como permanecia vivo.
Eu tinha medo de me manter vivo, mas tinha medo de morrer, encontrar todas as mulheres que eu já tivera algo que agora estavam mortas no inferno e elas contarem ao diabo o quão mal fui com elas, eu sofreria retaliações ou seria tratado como um deus no inferno, eu não queria morrer e encontrar a que deixei morrer e fugi, eu havia cheirado muito, meu coração batia a mil, eu estava no mínimo esperando a minha morte, dizendo adeus ao amor, já havia encontrado pessoas boas na vida, que puderam me ajudar a ser um novo homem, um bom homem, sem vícios, acontece que éramos duas vidas andando no juntas no aquário, ou éramos várias, e eu preferi me manter sozinho, feito um predador esperando a presa mais fraca pro meu bote, pro meu prazer, eu tinha prazer em estar com alguem, mas era raro, na hora da trepação, na hora do desabafo. Não tinha mais dinheiro, havia uma carta sobre a cômoda que fazia dias que não abria, resolvi abri, se fosse alguma doação de alguem eu ficaria feliz. Era uma ordem de despejo, por fim eu não tinha pra onde ir, era tudo ou nada, era eu, viciado e a cocaína meu vício, eu não tinha familia, não tinha amigos, não tinha pra onde correr. Fui ao bar, bebi tudo que podia na minha velha nova conta, mais de vinte garrafas de cerveja, mais de dez doses de conhaque. Faltava-me somente o pó. Fui ao caixa do banco, peguei todo o dinheiro que ainda tinha pra um limite de cheque especial, uns trezentos reais, comprei tudo de cocaína, cheirei metade daquilo, coloquei tudo no espelho do banheiro que havia retirado e colocado sobre o chão, sob o teto, aquilo me dominava tanto, eu era tão feliz quando cheirava, eu era tão sobressalente, eu era tão homem, meu coração acelerado ainda mais, sentia minhas mãos tremerem, fedia, fedia muito, não tomava banho há muitos dias, minha barba estava muito grande, meu cabelo ainda maior, via isso pelo reflexo do espelho a cada vez que abaixava pra cheirar, fui à rua, olhei pro céu ainda vivo, minha visão da lua era extremamente única, era como se eu tivesse alcançado-a por namorada, as estrelas eram tão estreitas, me cativavam, deitei na calçada, minha boca borbulhava, passei a mão pelo nariz e não vi nada alem de muito sangue jorrando, meu braço esquerdo adormeceu, um cachorro lambeu meu beiço, achou péssimo o gosto de sangue que escorria do nariz e foi embora, morri ali, por fim, sem condições, sem ter uma vida, sem alcançar meus objetivos, eu sabia que sentiria falta da cocaína no inferno, eu não queria ter morrido tão cedo, queria mulheres, uma ultima trepada, um ultimo delírio, um ultimo beijo, um ultimo abraço da minha garrafa de conhaque, mas nada mais surtira efeito, talvez fosse ser enterrado como indigente, não tinha documentos, ninguem sabia de onde viera, ninguem nunca soube por fim.

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