domingo, 15 de fevereiro de 2009

mande lembraças a Deus.

Adiantava dizer a ela que eu não aguentava nem fumar os velhos cigarros de quem eu tanto gostara a vida inteira? E que ela não bastava mais, e que viver por ela já não rendia mais frutos, que meus sonhos, minhas realizações, que meus tempos dentro dela já não tinham mais valia?
Ter uma vida vivida num cofre, tentar adivinhar o que a vida tinha de melhor sentido, já não era mais pra mim, que tem gente que confunde luxo com luxuria, sempre fui luxurioso, porém nunca luxuoso. Meu estado era deprimente.
Já não comia muitas mulheres, aliás, não comia nenhuma, não tinha amor, tinha dois pulmões que me martirizavam, tinha um amor lá nas Minas Gerais de José que não existem mais, meus livros haviam vencido, a língua que eu falava mudara de sentido, haviam regras que não permaneciam mais, eu queria ler Bukowski, mas Bukowski não tinha mais. Queria uma casa, mas não tinha paredes, nem teto, nem rede. Queria um amor, mas não existia coração, até que não quis mais nada. Só um ou dois cigarros pra eu não passar a noite sem companhia.
Nunca tinha conhecido alguem mais doente que eu, mais debilitado, havia algum momento na vida em que eu tentava levantar, mas era só pra sentar na latrina outra vez e cagar tudo que tinha vivido, eu queria morrer, mas morrer não vingava – era de propósito que Deus me ressuscitava toda vez que eu morria.
Daí descobri que não adiantava dizer a vida que eu não aguentava mais vivê-la, não vou dizer mais. Prometo!

2 comentários:

Angélica Maria disse...

E se disser: venha até mim...
Será da vida prometer-me você?
Óh... De repente divagamos demais...
No mais, seus contos são maravilhosos, conquanto no estágio que o suprime.

Angel disse...

E quem dera que de todas as poesias, fosse eu a inspiração.