Alguém há de dizer que são palavras fortes, mas tamanha é a força do texto de Téo e do seu grito, que não haveria como dizer deles, se não fosse com força. Se você é capaz de enxergar a ternura encoberta pelo mito do forte que tem medo de que percebam sua doçura, então é capaz de amar este blog. por Ana da Cruz.
terça-feira, 7 de maio de 2013
Tristessa.
A primeira vez foi quando eu estava triste, a segunda tambem e a partir da terceira fazia por comodidade. Você vai pensando no dia seguinte e depois no outro e depois no outro e quando vê, ja está no que nem imaginou. A primeira vez foram duas ou três doses, a segunda vez foi um caminhar sem fim e totalmente zigue-zagueoso, se é que me entende, até a cama. Lembrava-me de algo que alguem havia me dito que não seria alcool ou mulher que me curaria daquela tristeza crônica. Era um Kerouac já velho que não prestava pra nada, não aguentava beber, um copo de conhaque e tudo parecia a morte. Aí lembrava que havia coisas piores que a morte, graças ao Buk, e bebia mais um pouco. Por algumas vezes tive a companhia de algo divino, mulheres, mulheres e suas vestes que me provocavam. Ou era mulheres ou eram bebidas ou era a cama. Ah, e era tristeza tambem. Abria a janela do quarto e a o sol estava lá, fechava novamente, no decorrer do dia arriscava abrir mais duas ou tres vezes, mas vou te contar, quando você está de ressaca até um vampiro aguenta mais sol na cara que você. E o sol não parecia feliz tambem. Ele me olhava e piscava pra mim como quem dissesse: estamos-na-mesma-meu-brother. Era dificil imaginar o sol tomando alguma coisa. Cerveja gelada então, me parecia impossível. Até que ontem foi a ultima vez entre a primeira e a segunda e todas as outras. Fechei a janela, só abro quando passar a ressaca. E que nenhuma daquelas mulheres me façam companhia novamente. E eu espero que o sol esteja lá tambem, curado. E que você diga que me ama a cada copo que eu arriscar de tomar daqui pra frente.
domingo, 14 de abril de 2013
Cervejas, tilintares e aquilo que chamamos de amor.
Acordara durante alguns dias indisposto. Era um final de ano e isso era como se não houvesse mais fim. Aquele clima chato de pessoas à espera de festas e churrascos e cervejas e uma ameaça de morte no telefone. Aquele tilintar angustiante dos aneis de latas de cervejas que se faziam barulhentos como se estivessem se despedindo daquela vida perversa que levara durante 28 anos. Amigos preocupados com sua provável morte e um homem a dizer: você não terá muito tempo, vou te pegar. E eu lá, à espera do que era inevitável. Bebia conhaques e cervejas. E era tudo.
Você pode passar anos pregando permissividades luxuriosas e se divertir com elas. Tendo mulheres em que minutos depois esqueceria para sempre. Fazer listas de quantas pessoas levou para cama e se orgulhar por esquecer dezenas delas. Não havia leucotomia que desse jeito naquele silêncio sufocante dos finais de semana em que não sabia pra quem ligar, muito menos havia alguem que te procurasse. O silêncio do telefone era tão dolorido que nem o despertador ativado era pontual. Era você, ali, um homem sem escrupulos e cheio de culpas. As mulheres da tua vida ou da paralelidade daquilo que chamara de vida, acreditavam tambem, com muito afinco e fé, que sua morte enfiaria milhares de tridentes no seu rabo e isso as emocionava e felicitava.
Eis que num estado fisico de matéria, sua vida gasosa para solida, nesse estado de sublimação peculiar, aparece um par de olhos daqueles e seu coração dispara e suas cervejas tomam gosto e nada-mais-parece-estar-morto-ainda-que-sua-vida-esteja-sob-ameaça-perpétua-de-um-cretino-tambem-quase-morto. O telefone lhe faz companhia, há um som forte e claro no fim do tunel musical. E Mahler volta com a sua mais bela sinfonia e tilinta bonito dessa vez. Cada prato da orquestra se compassa com o anel da cerveja e você dança com aquele par de olhos o que nunca antes lhe foi tão dançante. E a vida renova e você não se parece mais com um Mort Rainey à espera de matar o que lhe ameaça. Viver lhe basta e isso é tudo. Uma cerveja, alguns dias de musica, uns projetos de medo. E: você quer se casar? - Sim, eu quero. E acordar ao lado dispensa qualquer telefonema. Amor, prepare nossa cerveja que hoje vamos tilintar a casa inteira.
Você pode passar anos pregando permissividades luxuriosas e se divertir com elas. Tendo mulheres em que minutos depois esqueceria para sempre. Fazer listas de quantas pessoas levou para cama e se orgulhar por esquecer dezenas delas. Não havia leucotomia que desse jeito naquele silêncio sufocante dos finais de semana em que não sabia pra quem ligar, muito menos havia alguem que te procurasse. O silêncio do telefone era tão dolorido que nem o despertador ativado era pontual. Era você, ali, um homem sem escrupulos e cheio de culpas. As mulheres da tua vida ou da paralelidade daquilo que chamara de vida, acreditavam tambem, com muito afinco e fé, que sua morte enfiaria milhares de tridentes no seu rabo e isso as emocionava e felicitava.
Eis que num estado fisico de matéria, sua vida gasosa para solida, nesse estado de sublimação peculiar, aparece um par de olhos daqueles e seu coração dispara e suas cervejas tomam gosto e nada-mais-parece-estar-morto-ainda-que-sua-vida-esteja-sob-ameaça-perpétua-de-um-cretino-tambem-quase-morto. O telefone lhe faz companhia, há um som forte e claro no fim do tunel musical. E Mahler volta com a sua mais bela sinfonia e tilinta bonito dessa vez. Cada prato da orquestra se compassa com o anel da cerveja e você dança com aquele par de olhos o que nunca antes lhe foi tão dançante. E a vida renova e você não se parece mais com um Mort Rainey à espera de matar o que lhe ameaça. Viver lhe basta e isso é tudo. Uma cerveja, alguns dias de musica, uns projetos de medo. E: você quer se casar? - Sim, eu quero. E acordar ao lado dispensa qualquer telefonema. Amor, prepare nossa cerveja que hoje vamos tilintar a casa inteira.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Ca.
Há um tempo em que tudo não passa de desistência e desamor.
Você é pego pelo pé ou pelas mãos ou pelos pêlos do seu genital e isso te
arrasta ou te machuca ou te corrompe. E você continua porque a ideia é chegar
até o fim. No meio do caminho você encontra algumas garrafas, como se tivesse
em um cômodo que fizera festa durante toda a semana e agora é domingo e agora é
frio e agora está nublado e agora você precisa limpar a casa; com garrafas
pelos cantos, pelo centro, em cima das suas coisas, da sua cama, da sua
estante, todas vazias. E há algumas mulheres deitadas nuas e alguns de seus
amigos ainda bêbados e cheirando a sexo e você não se reconhece ali, você
sempre foi aquilo, mas você não se reconhece ali.
E você limpa sua casa, tira as garrafas vazias do canto, do
centro, da estante, comunica o fim da festa, mulheres nuas se levantam - podres
- e seus amigos, ainda mais podres já esperam a próxima. Mas você sabe que
alguma coisa aconteceu e você não estará na próxima. E sua casa não terá outra
festa deste nível.
Alguem te liga e te oferece companhia. Você nega.
Alguem te liga e sugere uma bebida. Você nega.
E agora há um rádio ligado, Tom Jobim canta algo que sempre
te surpreendeu. E você pega seu telefone, liga pra alguem e diz: sinto sua
falta, sou apaixonado por você. E
ela tem medo, você tem medo. Cada é um responsável pelo seu
passado, pelos suas dores e não há quem vá chegar e tratar de cura-lo sem
distinção. Há de ser julgado e você torce pela absolvição.
Ela é uma linda mulher e seus cabelos curtos não chegam aos
pés da grandeza de seus olhos. E você se lembra de Bukowski dizendo: um par de
olhos capaz de nocautear o sol. E você continua, ela esta lá. "você quer
vir em casa?" e ela vem, e a sua casa está limpa, há uma garrafa na
estante, um Cabernet - tão romântico que seus amigos negaram - digno de um
compartilhamento, mas agora sem mulheres nuas e amigos podres. Ela chega, o
chão reflete seu brilho, suas mãos tremem e sorri com o canto dos lábios. E
agora, depois da casa limpa, pode andar descalço e afagar seus cabelos suaves;
não há mais desamor ou desistência. Ela vai precisar de uma cópia destas
chaves.
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