terça-feira, 28 de junho de 2011

sonho, leite e lambidas.

essa noite tive um sonho,
e não foi um sonho qualquer.

eu era um gato,
que lambia meu rabo por muito tempo,
e dormia por muito tempo.

e vc havia me deixado,
a vizinha me dava comida de gato,
como é ruim comida de gato.

não me lembro de gostar de Wagner,
ela colocava uma música tão chata do apartamento dela,
era engraçado que agora eu ouvia com mais nitidez.

eu odiava ser um gato,
vc sabe que eu jamais gostei de gatos,
não gosto de bichos, cacete.
Por que vc me deixou quando eu mais precisei de você?

E você não voltava,
passava dias a fio,
e me lembro que a única coisa que me identificava enquanto ser humano,
era odiar leite.
eu era um gato que odiava leite.

E a minha barba de gato, fazia cócegas no meu rabo.
Porra, você foi embora e não era o meu rabo que eu queria lamber.
Eu tava doido pra ouvir Dvorak, eu era um gato romântico, cara.
Mas quando eu pedia Dvorak, surgia um miau desconsertante.

Tinha pêlos vermelhos, mas não era um ruivo ativo, era talvez adicto.
E você havia saído pela porta da frente, era o que me contara a vizinha;
Ela pensava que eu era só um gato e ficava me contando da vida imunda,
sua e dela.

E você não voltou, por meses ela reclamou que você não pagou os aluguéis que devia.
E quando eu cagava fora da caixinha, ela me xingava e te xingava,
que você deixou pra trás, alem de dívida, um gato filho-da-puta.

E eu fiquei velho, barrigudo e cri-cri...
Ela não me dava mais comida de gato,
e nem pensava em você como devedora.

Aí não precisava mais de você!
Ela dividia o almoço e às vezes eu tomava a cerveja que ela deixava no chão.
Já bêbada, ia dormir e eu lambia o rabo dela.

aí você me acordou, com um beijo de bom dia. E eu te odiei pro resto da vida.

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