sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Paixão, umbigo e verruga.

No bar, o conhaque, a cadeira vazia.
- Téo, posso me sentar?
- sentai, Johnny.
- Téo, conheci uma mulher, que, cara...
- Comeu?
- Comi, Téo. Mas tem um diferencial.
- Qual?
- ela é uma aberração!
- como assim?
- nos beijamos, conversamos sobre Sartre e Coates, sim, cara, ela gosta de Coates, me disse que Valse Serenade é melhor que trepar e tocar o umbigo. Não entendi, claro, jamais entenderia até ver.
- entendo.
- então, aí ela me chamou pra casa dela, do nada, sem sequer um conhaque. Entramos, ela arrancou minha roupa, me chupou e disse pra eu esperar... foi ao banheiro, e voltou de roupão e a beijei a boca, estava apaixonado, olhava nos olhos dela e dizia que a amava, era tudo que eu queria. Era linda; aí ela tirou o roupão, e tinha um umbigo maior que meu pau, cara.
- e você gostou?
- no começo achei estranho, mas depois fui me acostumando, ela me disse que era pra eu descobrir o ponto fraco dela, e adivinha onde era?
- no cu?
- não, Téo, caralho... ... no umbigo.
- e você chupou o umbigo dela?
- então... comecei com receio, mas depois a beijei loucamente, afinal, eu havia dito que a amava e quando a gente ama alguém, pouco importa a cara, quiça o umbigo. E nos jogamos na boca, já havia gozado na boca dela, ela havia dito que me amava também e fomos nos tocando, nos conhecendo, definitivamente. Pediu pra eu parar e colocou Coates, pedi Mahler, já que aquilo era estranho pra mim, Mahler cairia melhor. Não obedeceu, acabou colocando a Missa Solenis do Beethoven, era de fato uma aberração, Téo. Quando a penetrei, ela estava molhada e estimulava o clitóris enquanto a comia. Mas ela não quis nem saber, colocou minha mão no umbigo e mandou eu mexer bastante, e a mina gozou mais que do que eu já havia esporrado na minha vida toda, Téo.
- e essa moça é de onde?
- ela me disse é que de B’612.
- porra, mas esse é o planeta do Pequeno Príncipe, não é?
- pode ser, Téo.
- mas lá só tinha o Pequeno Príncipe, a rosa e os jatobás que ele matou.
- talvez ela seja a rosa, Téo. Ou o Pequeno Príncipe, talvez um jatobá morto. Mas o que e impressiona mesmo é o umbigo...
Levantei e fui pra casa, chegando em casa contei pra minha mulher que eu não era maluco, havia gente pior que eu por aí, todos os dias, em todos os bares e ela mandou eu estimular a verruga que tinha na altura da terceira costela.

5 comentários:

Fogo na tigela. disse...

Sou incapaz de fazer um comentário analítico perante a altura da sua escrita. Só tenho a dizer que é magnífico e incrível o seu talento, tenho muito orgulho de você.

Pati* disse...

No trajeto diário de casa para a aula/o trabalho, o máximo que consigo é cochilar e ainda fico feliz quando o silêncio me permite isso. Quem dera que tanto tempo comigo mesma me rendesse umas "porcarias" assim de vez em quando! Ao ler que a moça era uma 'aberração', não imaginei que no desenrolar da narrativa o Johnny fosse mostrar-se tão encantado, fiquei cá comigo tentando recontruir suas descobertas sensoriais, desde a visão do estranho umbigo até o sexo que, sem grandes pretensões, desenvolve-se numa dinâmica de dar inveja. (risos)
A relação entre Grotesco e Sublime (belo e feio numa divisão tênue) é característica típica do movimento romântico, mas, não sei por que, não me causa admiração encontrá-la aqui.
Eu já quis morar em B’612, acho que é por isso que, numa situação dessas, apostaria até a última ficha no ser-vindo-de-outra-órbita, às vezes é preciso sair da nossa. Cada um tem um lugar que, quando tocado, desarma o corpo ou despe a alma, seja o umbigo, uma verruga ou qualquer outra saliência...

Jay disse...

sensacional

Fala Criscuolo disse...

Desvairado, continuando estou pensando e estou certo que sou ou serei incapaz de reproduzir uma narrativa semelhante.

Conhecendo a ti alucinado pelas relações irregulares, sonhos, fantasias e ficções, teus relatos são como uma brisa que adentra a fresta da janela no amanhecer de domingo.

Unknown disse...

Impossível não ficar fascinado com seus textos. O ritmo da leitura, as fábulas, as associações mais inesperadas e a imoralidade sempre presente nas histórias dão uma pitada única ao seu estilo.

Fora tudo isso, é profundo. É leitura que não acaba no ponto final, pro bem o pro mal ela te persegue, algumas por minutos, outras por horas e a maioria, pra sempre!

Mumu Silva
www.obenedito.com