sábado, 23 de outubro de 2010

Rock, conhaque e fígado forte.

Estávamos num concerto, um show de uma grande banda de metal, não sei, não me lembro dos acordes, das músicas. Não sei. Ela não era flor que se cheirasse, era um espinho dos diabos. Eu bem que sabia, mas não hesitava em chegar por perto por causa disso. Dizia que a diferença entre deus e o diabo era somente a fé que lhes era despejada. Um que precisava de muita coisa boa com certo recalque da maldade e outro que precisava de muita coisa ruim com certo recalque de bondade pra que as pessoas elevassem a fé no mais alto estima do dogma.
Era bem gostosa, tinha seios pequenos e gostosos, na palma da mão cabiam feito jóias e eu insistia em beijá-los como se fossem achados em uma mina, por um escravo sem chefe, a liberdade conquistada, o futuro não previsto; o milagre divino.
À bunda não sobraram elogios, mas de fato era a mais bonita que havia visto, redonda, maior que a impressão que os seios passaram, mas havia visto outras bonitas também, logo, isso não surpreendia muito, não tanto quanto as jóias que beijei durante o show inteiro, num banheiro químico.
- me leva pra casa, Téo?
- levo sim.
Quando entramos no carro, perguntei o endereço, não havia muita gasolina no carro, havia bebido demais e não gostava de dirigir embriagado, não que ligasse pra policia ou a vida de outras pessoas, é que quando eu bebia temia a minha vida. Por mais que a vida não era muito agradável ultimamente, morrer não seria muito legal. Aquele show, aquela bunda, aqueles seios...
- qual seu endereço?
- vamos pra sua casa, Téo.
- tudo bem.
Chegamos em casa, mandei-a subir, fui ao bar, comprei duas garrafas de conhaque, estava bastante empolgado, esperava que aquela vadia estivesse me esperando de pernas abertas, afinal, era assim que ela se mostrava bela. Cheguei na porta, bati, ela mandou eu entrar, às vezes eu era educado com algumas mulheres, até em casa, visto que poderiam ser recíprocas na cama.
- comprei conhaque.
- tem copo?
- não.
- onde bebo então?
- comprei duas garrafas, bebe na porra do gargalo.
Ela bebeu tudo, bebeu um litro de conhaque num espaço de 15 minutos e eu fiquei abismado. Informei que o meu quarto era na porta à direita. E que poderia deitar por lá.
- você não vai me comer, Téo?
- não.
Deitei no sofá e dormi. Jamais comeria uma mulher que bebesse mais que eu. O perigo pode estar num show de rock ou num fígado mais forte que o seu.

3 comentários:

Marianna Rafaella disse...

alusão aos mineiros chilenos ou eu que não aguento mais ver essa reportagem?

Pati* disse...

Começo comentando o que não é novidade, tenho uma "invejinha" da naturalidade das tuas representações espaciais/temporais, parte das mais importantes numa narrativa e com a qual eu, infelizmente, não tenho tanta habilidade - um show de rock é bem a tua cara. Defino como, no mínimo, inusitado esse lugar dos 'agarramentos' - banheiro químico - e percebo que meu lado mulherzinha subsiste, pois não deixei de torcer o nariz ao ambiente, nada romântico (risos).
Ainda não desisti de entender a concepção de feminino que orienta essa produção, num momento inicial (elas) parecem ser o centro, foco das ações e do protagonista, mas a "virada" sempre acontece, repentina, como se quisesse mostrar, no desdém, qual é o lugar delas. Entregues à sorte...
A descrição exaltada é capaz de nos fazer pensar que a moça conseguiria um certo domínio. Puta engano, hein? Tô quase "pedindo pra sair", homem-sem-jeito! :P
Quanto ao perigo, ele está em toda parte, dizem que viver é perigoso, o caráter de todas as coisas é variável na seguinte medida: (in)ofensivo pra quem, afinal?

Moreninha disse...

Confesso que imaginei outro final, do tipo: "Ao abrir a porta ela apontou uma arma em minha cabeça..." e por aí vai.
Mas vc é infinitamente melhor que eu em finais surpreendentes.