sábado, 24 de outubro de 2009

Téo

Ainda tinha muito tempo antes da chegada da visita, mas por precaução se arrumara com antecedência, olhadinha rápida no espelho, “nada mal”, pensou consigo mesma, queria estar bonita aos olhos dele. Olhou para o relógio, tinha muito tempo mesmo, deveria estudar, em cima da cama uma montanha de papéis, livros, textos de leitura obrigatória, mas nos quais não conseguiria se deter, não naquele dia, estava ansiosa. Decidiu ao menos organizar tudo, que bagunça estava aquilo ali!
A campainha toca estridente, num salto ela põe-se de pé, já seria ele? Abre a porta ainda um pouco hesitante... Ele era realmente um belo exemplar de homem, tinha uma cara de safado como ela sempre imaginara, e bastou um primeiro olhar para que seu desejo de beijá-lo, de estar em seus braços, de se entregar fosse despertado. Convidou-o para entrar, ainda um pouco embaraçado por se dar conta que não havia organizado as coisas que deveria, mas “tudo bem, tudo bem...” Conversaram sobre amenidades, ele perguntou sobre sua estadia na cidade, ela ofereceu-lhe uma cerveja, que foi prontamente aceita, enquanto retirava o material de estudo de cima da cama e levava-o para a mesa próxima à janela.
Mesmo de costas percebeu que ele se levantara e vinha em sua direção, enfim, “já haviam conversado demais mesmo”! Seus braços envolveram-lhe a cintura, agilmente ele puxou-a para si, sentiu seus lábios quentes roçando-lhe a nuca, e o volume de seu cacete em sua bunda.... “Gostosa”, sussurrou ele ao pé do seu ouvido enquanto suas mãos deslizavam por baixo da blusa que lhe tirara sem a menor dificuldade. Virou-se para ele, queria sua boca, queria seu beijo, sentir seu gosto, beijou-o com vontade, com fome mesmo, e que deliciosa era aquela boca! Já estava maluca de tesão, tanto que buscou seu corpo, sua roupa, e ela própria tratou de tirar-lhe a camisa, abrir-lhe a calça, queria logo libertar aquela pica! Beijou-o todo, mordendo. chupando-lhe o pescoço, descendo pelo peito, barriga, enquanto ele a incentivava, pedia que a “menina” mostrasse o que sabia fazer.
Ajoelhou-se diante dele, segurou aquele pau lindo.. “pau de ruivo”, lembrou que certa vez havia lhe dito que nunca havia ficado com um ruivo, enfim sua curiosidade estava em parte satisfeita, em parte, por quê aquilo era apenas o começo. Ensaiou uma punhetinha, levantou a cabeça e o brindou com um sorriso safado, deliciou-se provocando-o, lambia de leve só a cabecinha: “Que gostoso que você é, Téo!” e continuava seu ritual, agora contemplando aquele pau por inteiro, enquanto ele mostrava que queria mais: “vai, chupa gostoso safada!” Depois abocanhou-o, sentindo aquele pulsar em sua boca, tentando engoli-lo por inteiro, mas ainda precisava adquirir uma certa prática. Por ela chuparia até que a porra inundasse sua boca, mas ele a conteve, afastando-se: “calma mocinha, sem afobação!”, ela levantou-se e recebeu mais um beijo daqueles, delicia! Só pensava em sentir aquele homem possuindo-a.
Conduziu-a para a cama e arrancou-lhe rapidamente o short branco e a calcinha, beijou-lhe a boca com febre e dedicou-se a explorar seu corpo, primeiro saboreando aqueles seios, mordiscando os mamilos, arrancando gemidos a cada centímetro que sua boca percorria. Acariciou-lhe a boceta, estava totalmente molhada, latejante, pedia para ser invadida: “vou fazer você gozar na minha boca, delícia!”, e, abrindo-lhe as pernas, começou a chupar gostoso, sua língua invadia cada centímetro, ora lambendo, ora mordiscando de leve só com os lábios, fazendo-a gemer alto até alcançar o gozo estremecendo em sua língua. Subiu, beijando-a de novo, e posicionou seu pau na entrada daquela bocetinha apertada, olhou-a com um ar sério, perguntou se era isso mesmo que queria e disse que se queria tanto teria que pedir. Obteve resposta mais que satisfatória: “Vem Téo, quero sentir esse pau gostoso todinho em mim, me fode!”, penetrou-a de uma só vez, aumentando cada vez mais a intensidade dos movimentos, fazendo-a gemer forte apertando suas costas, acariciando-lhe a nuca enquanto ouvia o quanto era gostosa. Ela mordia os lábios, se contorcia, procurava sua boca, se encontrara naquele beijo, seu corpo vibrava, e entre gemidos anunciou que mais uma vez alcançara o êxtase. Apertou suas costas com mais força, fechou os olhos enquanto ele continuava os movimentos de vai e vem, até que ela relaxou e ficou parada, ouvia-se apenas sua respiração ofegante.
Nunca se sentira tão devassa e tão solta na cama, ficou de quatro pra ele, tinha cara de quem queria mais, muito mais: “Cumpre o que tu tanto me prometeu, que me daria uma canseira, vem, me fode até a exaustão!”. O safado meteu de uma vez só, sem dó, segurava-a pelos quadris, as estocadas eram tão fortes que ela sentia choques de prazer, delirava entre tapas e puxões de cabelo, rebolou gostoso naquela pica até que seu corpo mais uma vez estremeceu de prazer. Ele também chegara ao seu limite, nem precisou pedir, ela fez cara de gulosa e, ávida por aquele “leitinho”, engoliu tudo, sem desperdício! Realmente estava exausta: “tudo bom demais, que cretino gostoso!”, recebeu mais um beijo “caliente”, permaneceu deitada ali, estava exaltada demais para adormecer, logo ele veio deitar-se ao seu lado. Tinha vontade de aconchegar-se em seus braços, sentir o calor do seu corpo, mas, temendo uma recusa, não o fez. Não sabia muito sobre aquele homem, só sabia que ele a fez se sentir mulher do início ao fim, de resto, seu silêncio e a personalidade peculiar constituíam um mistério, o mistério que ela começara a desvendar naquela tarde.



conto que ganhei de uma amiga!:)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Cocaína IV!

Acordei com uma sensação de um péssimo gosto na boca, meu nariz escorria, mas estava escuro, eu não sabia o que era, levantei-me rápidamente, fui ao banheiro, tropecei em algumas coisas, fiz barulho, ela ouviu e perguntou se eu tinha algum problema, se passava por algo, eu disse que tava tudo bem, no espelho vi que meu nariz sangrava minha boca tambem, na real eu não sabia o que era tudo aquilo, foda-se, vou cheirar, talvez a coca ajude a cicatrizar, peguei uma carreira, estiquei na pia do banheiro, ela veio pra ver se havia acontecido algo, viu meu nariz sangrar, assoprou o pó e eu mandei-a tomar no cu, ir se foder, filha da puta do caralho, todos os palavrões que houvera aprendido no decorrer de 25 anos soaram hostis de fato num intervalo de dez segundos. Coloquei as calças e ela disse: espera, Téo. Você precisa saber o que há. Não esperei, coloquei a camiseta nos ombros e saí, não morávamos tão longe, andei, andei, passou uma senhora por mim, me olhou, mas minha barba era grande, pensou ser um drogado, um mendigo, um nóia e estava certa, eu parecia sujo, minha roupa estava fedida, há três dias eu não tomava banho, há três dias que eu só cheirava, trepava, bebia e ouvia musica, ouvia Wagner. Fui pra minha casa, na minha casa as coisas eram mais arrumadas, parecia o inverso, minha casa parecia a dela, eu sabia onde estava o algodão, onde estava o soro fisiológico, lavei, limpei, o sangue estava grosso, ressecado, quando passei o algodão senti uma dor fodida. Agora eu podia cheirar em paz, enfileirei uma carreira, cheirei, liguei o som – era tão viciado em música quanto em cocaína – ouvia city and colour a musica: forgive me.

- Téo, pelo amor de Deus, abre a porta, eu quero saber como você está.
- Estou bem, Patrícia.
- Abre a porta.

A porta estava aberta, ela sabia que eu não trancava, empurrou a porta, veio, viu que eu estava bem, eu havia cheirado, estava pego, com uma vontade do caralho de transar, eu queria que ela fodesse bem gostoso comigo, como na primeira vez, agarrei-a, tentei beijá-la, ela tentou se soltar, tentei absorvê-la, ela tentou fugir, como todas as vezes anteriores eu tentava, acontece que eu tentava fugir e agora era ofício dela. Eu não sabia se estava apaixonado ou a porra da carência infiltrava meu ego. Ela disse que me ajudaria, eu disse que a única ajuda possível era trepar comigo, ela não se lembrava de muita coisa dos dias anteriores e eu também não, tinha um abscesso no nariz, talvez a morte atracava-me, talvez eu tivesse medo e queria terminar a minha vida do melhor jeito possível, queria de qualquer jeito sentir aquelas mãos, aqueles seios na minha boca, aquela boceta latejando no meu pau, carreguei-a pro quarto e por fim desmaiei na minha cama, com aqueles lençóis brancos e a bandeira do Palmeiras na parede exposta: Libertadores 99!
Ela não chamou ambulância, ela não me conhecia, ela não gostava tanto de mim a ponto de tentar me salvar, eu faria o mesmo por ela se fosse o contrário, acordei e não sabia o que havia acontecido, estava deitado, na cama, com lençóis brancos, a minha bandeira do palmeiras estava ali na parede e escrita: libertadores 99! Era um orgulho pra nossa torcida, um título incrível, era ainda mais um orgulho pra mim, porque eu sabia que estava em casa. Levantei-me, fui ao banheiro, tomei um banho, não havia me olhado no espelho, me lavei a água ainda desceu um pouco suja de sangue, normal, pensei que tivesse sido do nariz e era. Ela dormia, dormia no sofá, um sofá de dois lugares, pequeno, laranja e encostado à única janela da casa. Fui à minha caixinha, um souvenir que houvera ganhado de uma amiga que trouxe de Londres, era onde eu guardava meu pó, mas a porra estava vazia.

- Patrícia, acorda, acorda, porra, você cheirou tudo o que tinha aqui?

Acordou assustada, com os olhos grandes, que me dominavam se olhando pra mim e disse:

- Joguei fora, joguei tudo fora, você não fará isso novamente, nem eu. Você foi a primeira pessoa que conheci aqui que gosto de sair, gosto de estar, que me realiza, não vou deixar você morrer, não vou aturar que se mate.
- Sem falsas delongas, eu quase morri, você me deixou deitado no mesmo lugar que estávamos quando apaguei, era meu quarto, eu sabia, eu havia te trazido pra cá.
- Não chamei a ambulância porque havia muita droga na porra da caixinha, fiquei com medo da polícia achar algo e nos acusar, mas eu estive contigo, cuidei de você, fiz curativo no seu nariz, você tinha um coágulo na boca, quase morreu sufocado de tanto sangue, você é injusto, Téo. Estou vendo a hora de começar a te odiar antes de amar.
- Eu nunca tive esperanças de que você me amasse, Patrícia. A minha única esperança era morrer trepando contigo.

Ela saiu, bateu a porta, esqueceu o casaco, era o mesmo casaco que usava todas as vezes que nos víamos, talvez sentiu frio, abriu novamente a porta, pegou o casaco em cima do sofá laranja e encostado à única janela da casa. Eu não tinha mais forças pra sair atrás dela, eu não tinha vontade, talvez sentisse falta mais tarde, mas agora eu sentia falta de ficar louco. Fui ao bar, bebi, dessa vez não cheirei, voltei pra casa e tocava city and colour – forgive me.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cocaína III


Acordei, dessa vez eu dormi, não tinha dinheiro pra muito, bebi muito pouco, cheirei menos ainda, logo, tive sono depois de tantos dias sem dormir e dormi.Até sonhei.
Sonhei com a Patricia, acordei com uma vontade do caralho de trepar, ela foi uma das melhores trepadas que tive na minha vida, era uma mulher incrível, inteligente, viera de um estado distante, formada em jornalismo, tentava a vida em São Paulo, mas jamais conseguiu ser uma pessoa bem sucedida, éramos de fato a contrapova da física em que os opostos se atraem, éramos muito parecidos, singelamente ela era capaz de tudo, sinceramente era uma pura vadia.
Certo dia estava bebendo em um bar na Vila Madalena, a vi de longe, era um tesão de mulher, muito bela, branca, bochechas rosadas, cabelo escuro, vermelho pintado, olhos verdes, tatuagem no pescoço, camiseta dos Beatles, bebia cerveja - eu adorava mulheres que bebiam cerveja - eu não era de se jogar fora, só estava, como sempre, com os olhos fundos, nariz coçando, medo de que escorresse algo do meu nariz, limpava de dez em dez minutos, ainda que não estivesse sujo. Peguei um cigarro, pus na boca, procurei incessantemente meu isqueiro, não encontrei, tirei o cigarro da boca, coloquei novamente na mesa, não tinha como acender. Ela percebeu, veio até minha mesa, com passos cautelosos, charmosa, uma calça jeans escura, apertada, mas era mais apertada ainda do joelho pra baixo, usava um tênis branco e tinha os cabelos lisos soltos. Não me disse nada, chegou perto, me ofereceu o isqueiro já aceso em sua mão. Fiquei estático.
Pedi pra ela sentar, me acompanhou em duas cervejas, ela questionou o por quê eu estar sozinho num lugar onde todo mundo tem companhia, por que eu não participava das rodas de conversa das mesas ao lado, e eu disse que morava por ali, a cidade no centro era muito solitária, as pessoas que estavam sentadas às mesas vinham de longe, traziam amigos, mas os moradores da região eram solitários, eu era muito solitário, talvez por isso tenha arrumado esta desculpa, talvez eu tivesse vergonha de falar que não tinha amigos, eu não tinha amigos e a questionei sobre ela estar só, ela me disse que por escolha, pedi a terceira cerveja, a quarta, queria cheirar, mas ficava tímido e ela me disse:
- queria um pó, você usa? Eu adoro cocaína, me deixa bem, feliz, faceira, me deixa com tesão, você gosta de mulheres que dão no primeiro encontro?
Eu fiquei com vergonha, confesso, mas a vergonha não me impediria de comê-la naquela noite, eu era novo, tinha uns 25 anos, tinha toda euforia do mundo, tinha todo tesão do mundo, tinha todo pique, toda droga que quisesse, talvez por eu ser calmo, de poucas amizades, era bem confiado na boca de fumo.
- eu gosto, na real não tenho muita percepção pra isso, a maioria das mulheres que saio, ou quase todas, fica muito louca e dá no primeiro encontro, e se você quer cocaína, vamos à minha casa, tenho um pouco aqui, toma, vá ao banheiro, mas cuidado, ponha na mão, cheire rápido e volte, deixe um pouco pra mim, a gente fica mais um pouco, toma uma cerveja e depois vamos pra casa.
Assim ela fez, ela voltou coçando o nariz e sorridente, me deu um beijo no rosto, colocou o restante na minha carteira de cigarros, fui ao banheiro, na esperança de que ela ainda estivesse na mesa quando eu voltasse, ela era tão linda, tão irreal, que eu achava que não era pra mim. Voltei, ela ainda estava lá, fomos à minha casa depois de mais três cervejas, pedi ao dono do bar que me vendesse mais algumas, me vendeu junto ao litro de conhaque, tomamos algumas cervejas, cheiramos, não conseguimos transar, meu pau não subia, ela chupava, mas nada de render, a masturbei, ela gozou, fiquei acordado, ela conseguiu dormir, dormiu lindamente, rosto rosado, branca, como uma princesa. Mal via a hora da minha brisa passar, pra acordá-la e comê-la, tentei dormir, não consegui, tomei mais conhaque, tomei muito conhaque, tomei todo conhaque. Chapei, dormi, acordei antes dela, na real eu não a entendia, ela não cheirava?
Como ela conseguia dormir tanto? Acordou insaciável, me pegou, fez tudo comigo, o melhor sexo que já tive na vida, eu não queria deixar que ela fosse embora. Pediu mais coca, era insaciável tambem com a droga, éramos de fato um pro outro, trepamos mais umas nove vezes aquele dia, ela disse que precisaria ir pra casa, eu a pedi pra morar comigo, eu disse que a amava, ela sorriu e disse que voltaria mais tarde, pra mais diversão.
Não consegui dormir mais, dessa vez não pela droga, mas pela moça, não exatamente pela moça, mas pelo sexo da moça. Ela fodia tão bem quando as bonecas infláveis que tivera sem nunca ter tocado, sei disso, porque jamais abriu a boca pra falar merda, ela falava tudo que eu adorava ouvir enquanto fodiamos.
Ficamos mais alguns dias indo à minha casa, quase dois meses entre encontros, drogas e muita putaria, me convidou pra ir à sua casa, um purgueiro, uma merda de lugar, não tinha contato com ninguem, não havia família, ela jamais falara de família comigo.



Imagem: Marianna Rafaella!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Cocaina II

Na verdade a coisa era muito mais real que pela manhã, meus olhosinchados, a boca cortada, dor de cabeça, eu poderia viver mais uns dias assim, mas não suportava, viver superava minha expectativa da morte e isso me matava psicológicamente.Enquanto o mundo rodava, meus olhos estavam vermelhos, peguei um caderno,tentei escrever alguma coisa, mas eu nunca achei bonito o azul no branco,sempre preferi um verde, talvez pelas cores do meu time, eu era fanático por aquele jogo, ia sempre ao estádio enquanto moleque, participava das torcidas, adorava brigas, adorava vê-las, brigar não era comigo, eu era forte no pensamento, mas era todo desajeitado pra brigar, preferia cheirara qualquer outra coisa, preferia beber a defender meu time de outros idiotas que torciam pra times mais idiotas ainda. Não consegui escrever.Havia recebido uma proposta de uma editora, pra lançar um miniconto,alguma desapropriação do meu eu, publicar à revelia o quão tóxicos eram meus pensamentos e ludibriações.Fui ao bar, pedi um conhaque, tomei numa virada só. Olhei no bolso, haviao cartão do banco e mais alguns trocados em moedas, aquilo daria somente pra comprar mais uma dose de conhaque, pensei em pedir fiado, mas fazia pouco tempo que eu estava ali, havia sumido do outro bairro, porque abri conta no bar e não paguei, deixei de pagar dois meses o aluguel.Meus 48 anos me traziam uma alma pesada e a esperança de um bom jazigo quese fazia breve.Na fila do banco esperei dois rapazes que estavam na minha frente,tentaram tirar um dinheiro, não conseguiram e foram embora. Fui, vi que tinha pra dois, DOIS, era incrível, fazia tempo que eu não pegava tão pouco pó, fui à boca, peguei dois pacotes minimos da droga, de no máximo um grama cada, ainda menos talvez, ali mesmo na boca deis alguns passos à frente, peguei a carteira, abri um papelote, coloquei inteiro e cheirei.Meu alívio subia pelas pernas, era como um corpo em chamas que se jogasseao mar e eu insistia em desdizer ao mundo o que diziam, de fato a droga não me fazia mal ou talvez eu não visse o maleficio com tanto esmero. O mal da cocaína era relativo. Fui ao bar, já anoitecia, meu time jogaria, o Palmeiras me faria feliz, era quase campeão, faltavam poucas vitórias pra congragulação. Talvez ali, no auge da velha idade era eu e o Palmeiras se ganhasse era motivo pra comemorar - ia na boca e pegava dez - se perdesse era motivo pra esquecer - ia na boca e pegava vinte.Fui ao bar, sentei, pedi um conhaque - dinheiro ainda era escasso -assisti ao jogo todo com um copo de conhaque somente, Palmeiras havia ganhado novamente, a torcida vibrava, o time jogava como raras vezes jogava, era meu motivo de felicidade. Fui ao banheiro, coloquei mais uma carreira cheirei pela vitória e em homenagem ao time. Estava bem, feliz,sorridente, ao sair um rapaz me disse: Tio, seu nariz tá sujo, cara.Limpei, sorri feliz e segui adiante. Fui pra casa, não hesitei agora, com coragem, em pedir uma conta no bar o dono não gostou muito da idéia, mas talvez por eu ser novo no lugar ele queria me dar as bem-vindezas e aprovou meu crédito, tomei mais dois conhaques, quatro garrafas de cerveja, cheirei o restante do pó e fui pra casa, ao chegar por lá, a vizinha da casa de baixo estava prostrada na janela, fumava um cigarro, me olhou com cara de vagabunda, dei boa noite, perguntou se eu tinha companhia, falei que não precisava. Fechou a janela e nunca mais olhou na minha cara.